Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

Peregrinação espiritual. O que te trouxe aqui?
Início da Temporada. A peregrinação espiritual é um ato de fé. Aquele que inicia a peregrinação, em algum nível, pode ouvir a voz do coração - a intuição. Se você sente desejo pela liberação, a graça divina te tocou e você é como o rio se movendo em direção ao oceano. As fricções que a vida oferece proporcionam desapego. As frustrações são aprendizados que levam além do pequeno eu. A cristalização do ego faz parte do aprendizado até que seja possível amadurecer o suficiente para perceber que o controle é ilusório e que há algo maior conduzindo. Esse poder divino te coloca na estrada até que você e ele sejam um. Início do Mahashivaratri e as austeridades inteligentes para desenvolver o poder da vontade. É a vontade verdadeiramente forte que te permite seguir os comandos do coração
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
31/1/2018

Sri Prem Baba: Eu te convido a se recolher por um instante em silêncio. Mantenha a coluna ereta e a cabeça no prolongamento da coluna. Os braços relaxados sobre as pernas, os olhos - que são as janelas da mente - se fecham e você respira suave e profundamente pelas narinas, fazendo com que a respiração se torne consciente. Observe o ar que entra e o ar que sai. 

E, desse lugar de contemplação, observe também o fluxo dos pensamentos, emoções, sensações. Permaneça assim acordado, observando o fluxo daquilo que passa por você, sem julgar, sem criticar. 

Evite seguir o pensamento. Como se estivesse no alto de uma montanha, observando o que se passa no vale. 

A respiração vai retornando para seu fluxo natural, mas você permanece consciente, assistindo passivamente ao fluxo, ampliando sua capacidade de se auto-observar, abrindo os canais da percepção e desenvolvendo a arte do testemunhar, o que vai proporcionando equanimidade mental. 

Quando sentir, abra os olhos.

Estamos iniciando a temporada Índia/2018. Que a fonte eterna de Sachcha possa nos acolher e atender os nossos pedidos sinceros, que possa trazer as respostas para as nossas perguntas. 

A diferença desta temporada é que estamos experimentando fazer uma transmissão ao vivo, para aqueles que não puderam chegar até aqui, para que também possam estar juntos de alguma maneira. 

O que te move nessa direção? O que te move a empreender uma peregrinação espiritual? Quer seja a peregrinação de se levantar da cama e ir para o computador assistir a transmissão, ou a peregrinação que envolve pegar avião, carros, caminhadas para chegar até aqui neste lugar tão distante para a grande maioria de vocês? 

Peregrinação é um ato de fé. Por mais cético que seja o peregrino, é um fio de fé que o leva a se mover, inspirado por um sopro, um sopro que às vezes chamamos de intuição. 

Aquele que inicia uma peregrinação está podendo, de alguma maneira, ouvir o seu coração. Mesmo ainda tendo dúvidas, mesmo sem tanta certeza, em algum grau, ele está podendo ouvir o seu coração. Foi ele quem te trouxe até aqui. Por quê? Para quê? 

Eu estou realmente lhe fazendo essa pergunta. Gostaria que você refletisse sobre isso. Não precisa necessariamente me responder agora, mas gostaria que durante este satsang, ou durante o dia de hoje, você buscasse essa resposta dentro de você. Talvez você já tenha uma resposta, talvez você ainda não tenha uma resposta. A pergunta é: por que o meu coração me trouxe aqui? 

Eu tenho ouvido relatos de buscadores e alguns dizem: “estou indo buscar o silêncio”. E eu penso: “difícil, porque a Índia não é um lugar silencioso”. 

Ouço alguns dizerem que vêm experimentar a divindade, vêm em busca do milagre da transcendência da mente condicionada, o milagre de perceber a vida além de um sistema de crenças e poder se descobrir: “quem de fato eu sou? O que de fato eu vim fazer aqui nesse mundo? Compreender o jogo da vida?” 

A compreensão do propósito da sua existência e do jogo que se manifestou para você - e que tem se manifestado para você - é uma consequência da descoberta de quem é você. Eu sinto que toda busca gira em torno da questão da identidade e essa revelação só é possível através da graça divina. Graça essa que é também como um sopro e tem a mesma qualidade da intuição. É subjetivo. Ainda são bem poucos aqueles que conseguem percebê-la, mas se você pode escutar seu coração e entrar no caminho, se pode iniciar a peregrinação, é porque de alguma maneira pode senti-la. É a graça que abre os canais da intuição. Você só inicia a caminhada porque a graça de alguma maneira lhe tocou. 

Essa jornada, que propicia a revelação da sua verdadeira identidade, só é possível através da graça, mesmo quando você ainda está confuso e não sabe se o que está te guiando é a sua intuição ou a sua mente. 

Quando ainda não sabe discernir quando a voz é a do coração ou quando vem de algum aspecto fragmentado da personalidade, você muitas vezes não identifica a ação da graça, mas é importante saber que se você chegou aqui foi através da graça divina. 

Se você sente desejo pela liberação, é porque a graça divina te tocou. O desejo pela liberação é a graça divina tocando você, é o seu ser querendo ir além das barreiras criadas pelo ego. Esse ser que começa a romper as barreiras do ego, que quer mais espaço, quer se fundir na graça que está além do ego. É como o rio que quer se fundir com o oceano. 

É um desejo que, às vezes, gera uma angústia. É uma angústia porque você vê o brilho das estrelas, mesmo que seja ainda uma visão indireta. Você percebe e sente que existe esse brilho, mas se sente preso à Terra. 

O rio se movendo em direção ao oceano pode não ter certeza da existência do oceano. Ele nunca viu o oceano! Mas tem um movimento mecânico o levando em direção ao oceano. 

Você nunca viu Deus, mas o ser em você se move em direção a Ele. Talvez você nunca tenha amado, talvez você tenha tido vislumbres do amor. Vislumbres todos têm! Especialmente você, que iniciou a peregrinação, já pode ouvir seu coração, já pode ouvir a intuição, já pode ter um vislumbre do amor.

Nem que tenha sido o amor por um animal, por uma criança, pelo sol, pela lua, pelas estrelas, por um amigo, em algum momento você teve um vislumbre desse amor incondicional. Mas, agora você quer chegar à fonte, o rio quer encontrar o oceano. Você quer sentir a graça que te liberta dos medos, a graça divina que te liberta dos medos da vida, do medo que, em si, é a antítese do amor. 

Eu vejo muitos buscando a graça divina para poder se ver livre dos medos e eu estou de acordo que só a graça divina te liberta dos medos. Onde está essa graça? 

Essa peregrinação, independentemente do movimento físico que seja executado, é uma jornada da mente para o coração. É a mais desafiadora jornada para o eu consciente. Envolve desapego..., envolve desapego... e... envolve desapego. Precisamos de muita humildade para desapegar. 

Aceitar o jogo da vida é só para os grandes e verdadeiramente grande são as pessoas humildes, quando o ego está menorzinho. E são para isso as fricções que a vida nos oferece: para que possamos aprender essa arte de desapegar, de aceitar aquilo que é. 

E, às vezes, isso começa com a aceitação de que o outro - aquele que você queria tanto que te amasse - não pode te amar. Às vezes não pode, ou não quer, não sei! O fato é que não está te amando e você precisa aprender a aceitar isso. 

Para que possamos expandir a consciência e acessar o oceano de bem-aventurança, poder romper com as amarras criadas pelo ego, temos que aprender a lidar com frustração. Eu considero que essa seja a “tabuada do 1”, os passos iniciais da jornada. 

Você tem que lidar com o pequeno eu obstinado dentro de você - obstinado e caprichoso – que quer que tudo seja do jeito dele. E, quanto mais teimoso e mais obstinado, mais a vida dá tapa na cara. 

Eu considero ser uma dádiva receber estes tapas, é uma benção! Esses tapas são a misericórdia divina manifestada, a compaixão divina manifestada. É a graça manifestada, te dando a chance de aprender a lidar com frustração, para que você possa ir além do pequeno eu, para que você possa se mover em direção ao oceano - esse lugar dentro de você em que você não sente falta de nada, não tem medo de nada, em que você experimenta satchitananda: existência, consciência e bem aventurança. 

Aprender a lidar com frustração significa aprender a lidar com perdas. Ninguém quer perder nada! Eu compreendo muito bem, estou falando da minha experiência. Nem sempre é possível controlar a vida. Essa é a grande ilusão do ego: acreditar que ele controla alguma coisa. O ego diz: “eu controlo, eu mando”. 

Durante uma fase da jornada, é importante o ego se cristalizar e até se empoderar dessa capacidade de controle. É importante ele sentir que pode realizar algumas coisas. Faz parte do aprendizado de se mover nesse mundo, até que você amadureça o suficiente para compreender que esse é um estado ilusório, que há algo maior lhe levando. 

Há uma inteligência maior lhe conduzindo e você é só um canal. Essa inteligência maior - que estou chamando de graça divina ou intuição - nós podemos chamar de Deus também. Mas Deus é uma palavra que foi tão distorcida e essa distorção está tão enraizada, que você pensa em algo fora de você, por isso eu uso essa palavra com parcimônia. 

Deus age em você e através de você. É o seu eu maior. Está dentro, fora, em cima, embaixo, está em todo lado, todo lugar. E é esse poder divino que te coloca na estrada, até que você e ele seja uma coisa só, até que não haja diferença entre você e Deus. 

E quando você pode sustentar essa conexão, o seu trabalho no mundo se torna serviço - que é um serviço para fazer com que outros possam experimentar essa mesma conexão onde quer que você esteja, através dos seus talentos, dos seus dons. Mesmo estando no mundo, você o enxerga com outros olhos, sua vida se torna oração.

Mas esse é um processo que envolve remover capas e capas que colocamos sobre esse eu maior. E são capas que você aprendeu a gostar, desenvolveu apego. 

Quando estou falando de desapego, é o desapegar dessas capas, que são ideias a respeito de quem é você e que são a causa do sofrimento. Em última análise, o desapego é do sofrimento. 

Portanto, em outras palavras, eu sei que muitos vêm até aqui para aprender a desapegar do sofrimento. Essa é a minha percepção daquilo que vejo, que observo nos relatos dos buscadores, mas eu estou sugerindo que você descubra: no seu caso em particular, o que foi que te trouxe até aqui? 

Estão lembrados que eu lhe fiz essa pergunta no início da nossa conversa? Que possamos iniciar a nossa temporada tomando consciência daquilo que de fato nos move. Pergunte para si mesmo: “O que me trouxe até aqui? O que estou buscando? O que eu sinto que esteja faltando na minha vida?”. 

Desta vez estamos iniciando a nossa temporada um pouco mais tarde, devido a compromissos que tive no Brasil. Mas, dentro da perfeição divina, estamos iniciando hoje, 31 de janeiro, dia da lua cheia que marca o início do período que chamamos de Mahashivaratri

Esta é uma data que considero importante. É uma das principais datas do ano, o dia que celebramos o encontro do masculino e do feminino dentro de nós, o dia em que a lua, que é regente da mente, deixa de exercer influência e muitas coisas maravilhosas são possíveis. 

Sempre sugiro que nesse período, que compreende dezesseis dias, possamos fortalecer o eu consciente, que é esse que escolheu vir aqui, que é o herói da jornada, esse que ouviu a intuição e escolheu realizá-la. Fortalecemos o eu consciente através de austeridades conscientes. As pessoas sábias costumam fazer austeridades neste período, para fortalecer a vontade. 

Este é um período muito poderoso, onde aquilo que você pensa, fala, sente e faz reverbera muito mais intensamente, por isso é importante estar atento ao que pensa, fala, sente e faz. 

Os sábios costumam fazer jejum – nem que seja diminuir a quantidade de alimento, ou tirar um alimento que você se sente viciado - é uma forma de tirar os amortecedores para você ir além. É um compromisso seu com a divindade que o habita, uma forma de fortalecer o yoge que te habita. É um período para desenvolver disciplina e aumentar o poder da vontade. Pois é a vontade que pode realizar os comandos do coração. Sem uma vontade realmente forte você não realiza os comandos do coração. 

Embora a graça divina esteja te colocando no caminho, as forças que operam contra a realização são tremendas nesse plano, o apego ao sofrimento é muito profundo. Por isso, sugiro que você aproveite esta chance, já que a graça divina lhe trouxe até aqui exatamente neste dia em que iniciamos esse tão profundo e delicado trabalho espiritual, que é o Mahashivaratri; quando temos a oportunidade de receber o darshan do senhor Shiva. 

Alguns talvez não entendam o significado disso. Para você compreender em algum grau o significado disso, eu diria que hoje estou sentado aqui lhe guiando porque num período como este eu recebi o darshan do senhor Shiva, que levou embora o mau karma de muitas vidas; quebrou algemas. 

Mas, isso sou eu falando para você sobre a minha experiência. Espero que você não se contente com isso. Quero que busque sua própria experiência, que possa receber o darshan de Deus e com isso poder vê-lo em todos e em todos os lugares. Se você vê Deus em todos e em todos os lugares, você não tem inimigos. O que tem é a ignorância atuando às vezes, mas você não tem inimigos. Aí a vida se torna uma celebração. 

Alguns que estão chegando agora da rua ainda podem pensar assim: “Será?”. Eu compreendo! Mas em mais uns dias dentro deste campo de prece, essas dúvidas vão se dissipar. Isso eu posso lhe garantir! 

O método que utilizamos - em que você vem para uma temporada, depois vai para o mundo e depois volta para uma temporada - não é fácil.  Se você vivesse no Ashram, o tempo todo em contemplação, seria muito mais fácil.  Mas, você sai daqui - do céu - vai para o mundo e acontecem coisas e ali você vai perdendo altitude, às vezes cai com a cara no chão, e até se achar de novo demora. 

 Como dizia o Maharaji: “Prem Baba, esse mundo é muito bonito, mas não se meta com ele que ele te pega!” Entretanto, eu compreendi que esse é o desafio, o seu desafio: aprender a andar no fogo sem se queimar. Eu chamo isso de yoga; outras vezes também de Kung fu, o Tai chi da vida. 

Os nossos trabalhos estão abertos. Quero desejar a todos um bom trabalho. Que Deus nos guie no caminho da luz. Lembre-se que é um trabalho de vinte e quatro horas. Esteja atento a seus sonhos e aos sinais da sincronicidades, aos encontros e desencontros, a tudo que acontece nesse lila do Maharaji

Talvez você tenha se esquecido, ou não esteja podendo sentir neste momento, e talvez se fará necessário mais tempo para que você possa sentir novamente, mas quero lhe dizer: Eu amo você e me reconheço dentro de você! Eu vejo que você é uma manifestação do amor divino.      

Abençoado seja cada um de vocês. Que o amor e a sabedoria iluminem os passos da sua jornada. Até um próximo encontro.

NAMASTE