Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.
Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.
Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.
Escuta do Silêncio para a paz e auto-investigação. Relacionamentos são a Universidade da vida. Liberação das crenças e ilusões. Necessidade de controlar e transformar o outro. Liberação do núcleo da ilusão, a carência afetiva. Relacionamentos como catalisadores do processo de autorrealização. Amar e deixar o outro livre, inclusive para não te amar.
Sri Prem Baba: Eu o convido a se recolher por um instante em silêncio. Alinhe-se e mantenha a cabeça no prolongamento da coluna. Os olhos se fecham com suavidade. Relaxe os ombros, os braços. Relaxe as pernas. Relaxe todo o seu corpo, mas mantenha a coluna ereta. Coluna ereta não quer dizer rígida. Respire suave e profundamente pelas narinas. A cada expiração permita-se relaxar e se esvaziar de toda preocupação, de todo desejo, de toda agitação.
Permita-se escutar o silêncio e quando algum som romper o silêncio, você acolhe. Perceba que estamos dentro de um campo de silêncio que é preenchido por sons que surgem e desaparecem. Coloque a sua atenção na escuta desse silêncio, que é permanente, e não se perturbe com os sons impermanentes que rompem o silêncio. Não julgue. Não pense sobre eles. Apenas deixe passar. Sustente o foco da atenção no silêncio. E assim, note que através desse simples exercício a sua percepção se amplia. Você experiencia ao menos algumas notas de calma, que é sinônimo de paz.
Quando quiser, lentamente abra os olhos, mas mantendo essa atenção, a consciência no momento presente para que possamos abrir o livro da vida, e estudar alguns capítulos.
Pergunta: Amado Prem Baba, por amor fale mais sobre o tema amar e deixar o outro livre para inclusive não te amar.
Sri Prem Baba: Uma das principais características da grande ilusão cósmica é você acreditar que é possível controlar o outro, transformar o outro, fazer com que o outro te ame.
Tendo a visão coberta por esse véu de ilusão - por véu de ilusão traduz-se crença - você acredita que é possível fazer com que o outro te ame. Você acredita que é possível transformar o outro, que é possível controlar o outro. Tendo a visão coberta por esse véu ou a mente dominada por essa crença, inevitavelmente você será lançado ao vale do sofrimento; inevitavelmente irá se frustrar, pois suas expectativas não serão atendidas.
Tenho dito que os relacionamentos são a universidade da vida. Você amadurece através dos relacionamentos; aprende sobre os mistérios da vida através das relações, ilumina a liberdade através das relações.
Isso acontece quando você remove esse véu e percebe que o outro não existe. Esse outro que você está tentando controlar; esse outro que você tenta manipular para que atenda a todos os seus caprichos, é só uma projeção da sua mente. Somente quando se dá conta de que está projetando aspectos da sua própria história no outro, de fato, você se torna livre disso que considero ser o núcleo da ilusão: a carência afetiva.
A carência é como um passaporte para o inferno. Não só o passaporte: é o passaporte com o visto, com o ticket pago, despesas pagas. Esse é o núcleo da ilusão que faz com que você sustente outro aspecto fundamental da ilusão: o isolamento. Estou falando de um círculo vicioso. A carência afetiva alimenta o seu isolamento, alimenta a ideia de que você é um eu isolado; de que existe você e o outro e que a sua felicidade depende dele.
Essa é a mecânica do sofrimento. É assim que o sofrimento opera no seu psiquismo. Esse círculo vicioso precisa ser rompido, mas esse rompimento não é tão simples, porque o vício é um grande poder. O vício opera numa esfera inconsciente.
Muitas vezes, você deseja ser autossuficiente e independente, no entanto a dependência, que é outro aspecto da carência, te pega de noite, quando está dormindo. Ela te pega no sonho. E essa é uma forma de medir o poder desse vício.
É importante saber que romper com o círculo vicioso é difícil, mas isso não deve ser motivo de desesperança, porque, na mais sutil falta de cuidado, você aciona outro círculo vicioso: sentir-se vítima, começar a reclamar. Isso acorda o ceticismo e você começa a achar que não há saída.
Estudar esse capítulo do livro da vida requer muita atenção para que você não seja tragado pelos impulsos inconscientes. É importante olhar de frente para a realidade. A realidade diz: é realmente difícil romper esse círculo vicioso; você precisa constantemente renovar seus votos e estar consciente de que talvez caia de novo e de novo e de novo. Faz-se necessário ter humildade para se levantar de novo e de novo e de novo até que, em algum momento, você possa romper com o círculo vicioso e seus indescritíveis desdobramentos. Podemos aqui tentar focalizar alguns.
Um aspecto bem visível é essa tendência de forçar o outro a te amar, que pode se traduzir em forçar o outro a pensar como você; forçar o outro a atender às suas expectativas. Isso é insano! É um aspecto da loucura que vive o ser humano nesse atual estado da evolução. Você passa a vida inteira desenvolvendo habilidades para forçar o outro a atender às suas expectativas, ou melhor, você desperdiça sua vida desenvolvendo habilidades para forçar o outro a atender às suas expectativas.
Se você, por exemplo, aprendeu – e quando eu falo aprender eu estou falando que você aprende isso no seu meio ambiente, na sua família, nos lugares onde você se desenvolveu. Se você aprendeu que consegue dominar o outro sendo uma vítima, você vai usar todo o seu tempo para ser a melhor das vítimas. Você vai se especializar em como seduzir através do vitimismo: “Se eu me rastejar, se eu demonstrar para o outro que vou me matar e ele me der atenção, funciona”. E, aí, você vai se especializando. Se você se desenvolveu num ambiente que o fez acreditar que se for frio, indiferente, autossuficiente, as suas necessidades serão atendidas, você desperdiçará a vida tentando ser o mais controlador, o mais indiferente possível. Estamos falando de estratégia de sedução. Sedução é uma arma da carência.
Isso é uma fotografia de um círculo vicioso que está a serviço do sofrimento. E o sofrimento, por sua vez, está a serviço da ilusão cósmica que te faz permanecer encantado com sua história, acreditando que ela é real e que você é esse personagem, esse eu que tem esse nome. Isso é o que faz você permanecer identificado com o seu corpo.
Ao mesmo tempo, o relacionamento tem um perigo – e quando falo de relacionamento eu estou falando de todo tipo de relacionamento – quanto maior o vínculo afetivo, maior o perigo. Quanto mais você se colocou dependente do outro, mais você vai querer fazer desse outro um escravo, mais você vai querer dominar, controlar, porque você acredita que se o outro estiver amarrado no pé da sua cama você estará salvo.
No relacionamento, ao mesmo tempo em que existe o perigo de sustentar o falso eu, existe a possibilidade de se libertar, porque ele é o instrumento que possibilita a percepção de que você está encantado, dentro de um sonho. E o que te possibilita acordar desse sonho é o conhecimento. Por exemplo, quando se percebe patinando na carência, triste ou irritado por não estar tendo suas necessidades ou suas expectativas atendidas pelo outro, é o primeiro sinal de alerta de que você está adormecido. Você perdeu a presença e está projetando as suas misérias no outro. É o seu passado que está interagindo com o outro. É o passado que está reagindo ao outro. Você não está mais ali; você saiu de cena. Você foi tomado por um impulso inconsciente que se traduz em personagens do passado que se manifestam na forma do ciúme, da insegurança, do medo e de seus múltiplos desdobramentos.
Ao perceber-se nessa situação, na qual não consegue aceitar que o outro queira algo diferente daquilo que você planejou, e por isso você fica mal (a primeira coisa que sente já é um aperto no plexo solar) se pergunte: quem em mim quer controlar o outro? Quem em mim não aceita que o outro seja livre para seguir o caminho que ele precisa, que ele quer? Quem é, em você, que está se sentindo tão ameaçado com a liberdade do outro? Mesmo que a liberdade dele o esteja levando para um buraco que você já está vendo. Quem em você precisa impedir que outro caia nesse buraco que ele precisa cair? Às vezes, o outro precisa cair no buraco para aprender a não cair de novo.
Você pode compartilhar sua sabedoria com o outro. Se você realmente o ama, é natural que queria compartilhar sua sabedoria com ele, pois o amor quer ver o bem do outro; o amor quer vê-lo brilhar. Mas o amor também respeita o seu livre arbítrio. Você pode até compartilhar a sua sabedoria e dar uma opinião se o outro lhe deu esse direito, mas não pode realmente evitar que ele amadureça através de seus erros e acertos.
Olhe para quem em você está tão desesperado, querendo salvar o outro. Quem em você está querendo tão desesperadamente que o outro siga o caminho que você acredita que seja o correto? Se o outro não existe e é só uma projeção da sua mente, então quem é que você está realmente querendo salvar dentro de você? Quem você está querendo proteger dentro de si mesmo?
Assim você começa a cuidar das partes da sua personalidade que foram esquecidas e relegadas ao plano das sombras. Você começa a trazer essas partes para a luz e a integrá-las. Você começa a juntar essas partes até que se torna um, indivisível. Você faz isso até que possa sustentar a presença enquanto se relaciona com o outro. Estando presente enquanto se relaciona, você não quer fazer do outro um escravo para atender as suas expectativas, porque a presença é Deus em você. Presença é um nome para o Eu Maior que te habita.
O Eu Maior em você respeita tudo e todos. Ele sabe que tudo tem seu tempo. Há tempo para plantar e há tempo para colher. Ele sabe que não é possível apressar o rio, pois ele corre sozinho. Não dá para forçar o florescimento. O que você pode fazer é dar o seu amor, seu cuidado e mesmo assim, às vezes, uma sementinha não floresce. E você não pode fazer nada, só aceitar. Não é você quem controla. Você só assiste. Você só assiste ao jogo!
Portanto, eu repito que a última prova nessa universidade dos relacionamentos é deixar o outro livre inclusive para não te amar. Porque você só vai deixar de reagir quando o outro não atender às suas expectativas, no momento em que você tiver renascido no espírito, quando você estiver podendo sustentar a presença e, ao mesmo tempo, esse é o seu principal material de escola. É o principal instrumento de aferição para ver com quem você está identificado.
Por exemplo, se você está desesperado querendo que o outro atenda às suas expectativas, se enlouquece quando ele retira a atenção de você, com quem você está identificado? Com qual parte da sua personalidade você está identificado? Com o Ser, com o Self, com certeza não é. Com o Eu Maior, com certeza não é. Nessa hora pergunte: quem em mim está desesperado? Esse sou eu? Se eu abro mão desse eu, o que sobra? Assim você começa a se provocar. Essa é uma forma de bater na porta da verdade. Quem sou eu?
Nessa hora, em que você se percebe muito identificado, quando se percebe tomado pela insegurança, tomado pela carência, provoque um choque na sua própria consciência: vá dar um mergulho no rio, tome um banho de água fria, beba um copo de água gelada, sacuda o corpo, respire de uma forma caótica. Uh! Ah! Sai capeta!! Sai que esse corpo não te pertence!! E, aí, volte para o eixo.
Vá colocando atenção num ponto, como no exercício que fizemos no início, por exemplo, foque no silêncio. Pode focar no próprio corpo. Está sentado na cadeira, sinta o seu corpo em contato com ela. Esse é um truque simples para você direcionar o foco da atenção. E, aí, você vai respirando suave e profundamente, vai voltando para o eixo, começa a observar a respiração e vai se distanciando dessa cena de horror, vai se distanciando dessa personagem que estava atuando no seu corpo.
Saiba que você ainda poderá atuar nessa personalidade incontáveis vezes, mas isso tem fim. Tem fim! A loucura tem fim. Dizem que, nesse mundo, tudo se cura. Pode não ser nessa vida, mas, que cura, cura. Em algum momento você rompe com a carência. Em algum momento você se desidentifica da ideia de que você é um eu separado, que tem essa história de carência e de insegurança.
Claro que, quando falo de deixar o outro livre, inclusive para não te amar, isso é um jogo de palavras. Eu dou o meu melhor para ser didático, mas o que ocorre mesmo é que você se torna livre. Você se liberta. O amor te faz livre. E se você está livre, você não se incomoda com as escolhas do outro, porque a liberdade respeita a liberdade. O amor te liberta. Somente o amor tem essa capacidade de deixar o outro livre. Se você quer controlar o outro, isso é o medo atuando em você - não é o amor. Se você está tomado pelo medo, permita-se investigá-lo. Permita-se conhecer esse medo, até que possa descobrir que ele não tem existência própria. O medo pertence à esfera da escuridão. A escuridão não tem existência própria. A escuridão é somente a ausência da luz. O medo vai existir enquanto você estiver dando alimento para ele. E qual é o alimento que você dá para o medo? Você acredita nele. Você acredita na ameaça, que é um elemento da projeção. Quando você abre o coração, o medo desaparece. A insegurança desaparece. A carência desaparece.
Você irá se valer desse instrumento que são os relacionamentos até completar o seu processo de autorrealização, o que significa tornar-se completamente livre. Até que isso aconteça, você atrairá pessoas que refletem esses pontos que ainda precisam ser curados e integrados, em todas as esferas da sua vida. Se o que você precisa integrar é um aspecto específico do medo; se é uma insegurança ou qualquer outro aspecto, alguém que provoca sua insegurança aparecerá na sua rede de relações. Às vezes, é o seu filho, às vezes é a sua mãe, seu namorado, seu marido, seu cachorro.. Se não houver ninguém para espelhar esse ponto que precisa ser integrado, você sonhará com alguém ou com alguma situação. Através dos sonhos você também pode acordar determinados aspectos que precisam ser integrados. Por exemplo, você sonha que a pessoa que você ama está te traindo. Então você acorda perturbado: será que está me traindo mesmo, será que não está?
Eu percebo que a cada ano você se torna mais seguro, mais autoconfiante. Às vezes, você acaba esbarrando em camadas mais profundas e mais sutis; camadas de defesa e ilusão que ainda não tinha visto. Às vezes, você encosta em camadas que não conhecia e tem a impressão de que está regredindo. Mas não é verdade. De uma forma geral, estou vendo grande progresso. Podemos medir o nosso progresso observando como está a nossa autoconfiança. Se você, nesse momento, não se sente tão autoconfiante assim, tenha calma. Estamos apenas no segundo dia da nossa temporada. Teremos bastante tempo para trabalhar.
É isso. Vamos seguir renovando nossos votos com o amor e com a liberdade. To Love and be free.
Sri Sachche Mahra Prabhu Ki! Jay Ho!
Sri Sachche Mahra Prabhu Ki! Jay Ho!
Abençoado seja cada um de vocês. Que possamos deixar o outro livre, inclusive para não nos amar. Até um próximo encontro.
NAMASTE