Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

Libertação do Medo da Escassez, Cultura de Paz e Prosperidade
O propósito de forjar os alicerces de uma cultura de paz e prosperidade, através de uma revolução da consciência. A erradicação de crenças de que a pobreza é espiritual. O medo da escassez que atrai a escassez e cria a pobreza através das escolhas e decisões de cada um. Como abrir caminhos para a prosperidade e se afinar com seus códigos divinos. A importância de acordar para a autossustentabilidade e para o controle da natalidade humana. Como a religião, a política e a economia reproduzem o ciclo do sadomasoquismo, através do medo da escassez.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
3/3/2017

Sri Prem Baba: Fechemos os olhos por um instante. Recolha-se na calma do seu coração. Faça respirações suaves e profundas pelas narinas e permita esvaziar-se de toda discórdia, toda expectativa. Permita-se relaxar no momento presente, onde você simplesmente testemunha passivamente o fluxo daquilo que é impermanente. Quando sentir vontade, abra os olhos e vamos continuar a nossa jornada de autoconhecimento. 

Pergunta: Amado Baba, há alguns dias você falou sobre o seu propósito de forjar os alicerces de uma cultura de paz e prosperidade. Sobre cultura de paz acredito que eu esteja entendendo, mas sobre prosperidade percebi que não compreendo. Você pode comentar?

Sri Prem Baba: É compreensível que você não compreenda. A prosperidade é uma linguagem esquecida, assim como outras dimensões do Ser. Pelo fato de estarmos completamente desconectados do nosso Eu real, nós desconhecemos certas dimensões dele. Desconhecemos a ponto de acharmos estranho, coisas como: prosperidade, verdade, justiça, saúde, vida. Achamos estranho o amor desinteressado, êxtase, confiança, que são dimensões do Ser, expressões do Divino. Prosperidade e abundância são Manifestações divinas, mas que em algum momento tornaram-se estranhas para o ser humano, que aprendeu muito bem a linguagem da pobreza. A pobreza é o que move esse mundo. Estando identificado com a pobreza, você corre atrás da riqueza e as consequências dessa luta pela riqueza são indescritíveis, são infinitas as variações, os desdobramentos. Mas são desdobramentos de um círculo vicioso que eu prefiro chamar de sadomasoquismo. Esse círculo vicioso acabou se tornando tão poderoso no psiquismo humano que algumas das suas raízes são até mesmo consideradas espirituais. A pobreza é considerada espiritual por muitas tradições religiosas; é considerada divina. Muitas pessoas têm orgulho de serem pobres, mesmo que sofram nessa condição. E mesmo que estejam, conscientemente, freneticamente, tentando sair desse lugar, elas não conseguem sair, porque estão presas por crenças muito poderosas, algumas delas consideradas de caráter espiritual - muitas religiões no mundo vivem da pobreza. Consequentemente, a economia nesse mundo vive da pobreza. 

A pobreza à qual me refiro é o medo da escassez. É o medo da escassez que cria a escassez. Aquilo que você mais teme você atrai. Essa é uma lei do psiquismo humano: o medo e o desejo caminham juntos. Aquilo que você mais teme, você deseja. Você teme a escassez, mas no mais profundo, você a deseja. Isso é uma lei do psiquismo humano que é alimentada por crenças. Se você, por exemplo, foi educado numa religião cristã, você ouviu que é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos Céus. Você ouviu que os pobres herdarão as glórias de Deus. Então parece que tem uma heresia em não ser pobre. Parece que tem alguma coisa errada com você caso você não esteja sofrendo, ou seja, atormentado pela possibilidade da escassez. Tem alguma coisa errada se você se sentir seguro, e mais errado ainda se você sentir prazer. O prazer é um grande perigo. Para muitos o prazer é o sinal inequívoco de que você será lançado ao fogo do inferno, de que se hoje você está rindo, significa que amanhã você estará chorando. Ou hoje ainda, mais tarde. 

Então, com uma mente tão profundamente condicionada, atada a crenças de medo da escassez e da natureza espiritual da pobreza, como é que você pode ter alguma compreensão a respeito da prosperidade, a respeito da abundância? Que, na maioria das vezes, você associa à indulgência, associa com luxúria, associa com uma riqueza material que significa que haverá um desequilíbrio no sistema. Porque ‘para cada pessoa rica, tem que ter uma pobre’. E alguns que, por força do karma, tiveram a chance de se tornarem ricos, acabam tendo que aprender a conviver com essa complexa equação, que está relacionada a uma distorção a respeito do significado de prosperidade - que é a erradicação do medo da escassez - independentemente de quanto dinheiro você tenha na sua conta; independentemente daquilo que você tenha conquistado no mundo material. E caso você tenha conquistado dinheiro, coisas no mundo material, também não tem nada de errado.

As leis que condenam a prosperidade e até mesmo a riqueza são as mesmas leis que condenam o prazer. São as leis que te fazem procriar inconsequentemente. Porque não é possível falarmos de prosperidade e abundância sem falarmos dessa estrutura psíquica ou das crenças, que estruturam a vida na sociedade, onde a ignorância vai procriando ignorância.

Então é bastante compreensível que você não tenha compreendido o que eu disse sobre forjar os alicerces de uma cultura de prosperidade. Isso significa que você está me ouvindo, está acordado. Porque criar uma cultura de prosperidade significa criar uma revolução de consciência. Não é possível estabelecer uma cultura de prosperidade sem uma revolução de consciência. Não é possível se livrar do medo da escassez, se livrar das crenças que poluem a sua mente, sem o rompimento com as estruturas arcaicas que te habitam. Isso não é fácil. Porque essa revolução muitas vezes provoca um balanço no seu senso de identidade. Você vai ter que questionar até mesmo a sua crença sobre Deus. As crenças que lhe são mais caras precisarão ser confrontadas. As crenças que são mais valiosas, mais importantes para você, precisam ser confrontadas porque são crenças que lhe dão um senso de identidade. Temos falado de não dualidade, temos falado sobre se identificar com o Ser, se desidentificar da sua história. Muito bonito, muito poético falar sobre tudo isso, mas viver isso não é tão simples! Mudança de cultura não é fácil. Nós estamos falando de mudança de cultura - do medo para confiança - de você estabelecer a confiança de que as suas necessidades serão atendidas. Isso é prosperidade! É ter suas necessidades atendidas. É ter um universo realmente a seu favor. É você sentindo e sabendo que não existem obstáculos. É poder dizer de verdade: “Aonde não? Porque não?”.

Então essa revolução tem pelo menos dois pontos que precisam ser levados em consideração. Primeiro: compreender que a pobreza não tem nada de divino, nada de espiritual - esse é o primeiro ponto. E isso não é tão simples; requer mesmo uma lavagem cerebral. Você precisa pegar realmente uma esponja e sabão e lavar o seu cérebro! Lavar o seu cérebro das crenças que dizem que pobreza é espiritual. Não é!

Segundo ponto: quem cria pobreza é você mesmo, através das suas escolhas, através das suas decisões. Você está onde você se coloca. Se você compreende esses dois pontos, você começa a abrir caminhos para a prosperidade, você começa a se afinar com os códigos divinos da prosperidade e da abundância. 

Um dos pontos do Sankalpa de Sachcha Baba, que é a promessa desse Santo e, consequentemente, dessa linhagem espiritual, é promover equilíbrio e harmonia na vida material. Estamos constantemente dirigindo nossa devoção para Annapurna e Lakshmi, as deusas do alimento e da abundância, para que nos iluminem, para que essas manifestações divinas que nos habitam tragam equilíbrio e harmonia para nossa vida material. É dito que certa vez Annapurna apareceu para Sachcha Baba. Annapurna - que é essa manifestação da Grande Mãe Universal, a deusa do alimento - prometeu a ele que seus devotos nunca passariam necessidades. Então, se você está realmente conectado comigo, como é que você passa necessidade? Então por que é que você passa necessidade? Tem alguma coisa errada nessa conta; tem alguma coisa errada. E essa coisa errada precisa ser identificada. Quais as crenças que estão fazendo você sentir que vai faltar alguma coisa? E que, com isso, você faz faltar? E aí o medo gera medo e você vai se afundando nesse círculo vicioso. 

Um terceiro ponto que está relacionado com essa revolução de consciência para poder forjar uma cultura de prosperidade é algo muito difícil até de conversarmos a respeito, que é a questão do controle de natalidade. Esse é um assunto difícil. Eu quase não falo sobre ele, porque acabo tendo que me deparar com tantas crenças, que eu prefiro ir pelas beiradas. Mas, se você está querendo e precisando compreender melhor o significado da prosperidade, e querendo entender o jogo que possibilita a criação de uma cultura de prosperidade, nós precisamos tocar nesse ponto, que é romper com a mecanicidade, com a inconsciência de como nós colocamos crianças neste mundo. E aí nós vamos ter que falar de métodos contraceptivos, vamos ter que falar de aborto. E aí, é claro que nós vamos mexer com algumas feridas nucleares do nosso sistema. Então, perceba que, para você poder se afinar com a prosperidade, você precisa ser livre de todo o lixo da mente, toda fantasia do que é certo, do que é errado. Tem tanta bobagem que a gente acha que é errada, tanta bobagem que a gente acha que é certa, mas que no reino dos Céus não têm a menor importância. Quando você está na verdade mesmo, aquilo que você achava que era a coisa mais importante do mundo não vai fazer a menor importância. Se existe um veneno, o veneno é a inconsciência - a inconsciência é o veneno. E o principal fruto da inconsciência é o desamor, que faz você se destruir, que faz você sofrer. O principal fruto da inconsciência é o auto-ódio na forma da autopunição. E você se vale de tudo quanto é crença para poder se punir, para sentir culpa, culpa de ser feliz, culpa de ter uma vida abençoada. Aí você consegue interromper o ciclo da bênção. Congratulations para o eu inferior! Ele foi esperto o suficiente para conseguir interromper o fluxo da bênção, para interromper o fluxo da prosperidade, o fluxo da autoconfiança, e fez você se sentir culpado, se sentir não merecedor. Se você se sente culpado, automaticamente, você não se sente merecedor de desfrutar da vida. Prosperidade significa você se sentir abençoado: “Eu sou abençoado! Nada me falta e nada me faltará”. Tudo chega na hora certa, no problem! Percebe então como é importante você tomar consciência dessas crenças que estão te conduzindo? É o primeiro passo. O primeiro passo é você identificar esses "eus" que estão te conduzindo, esses "eus" e todas as suas crenças. 

Eu sinto que parece tão impossível, tão distante criar uma cultura de prosperidade, porque prosperidade está intimamente relacionada com sustentabilidade, é você ter uma vida autossustentável. E, falar em autossustentabilidade num nível pessoal é uma coisa, mas falar de uma cultura global de prosperidade e de sustentabilidade parece impossível. Porque o planeta já deixou de ser sustentável há muito tempo. Segundo alguns cientistas, o planeta consegue se autossustentar com dois milhões de habitantes; nós temos sete! Já estamos caminhando para doze, segundo alguns cientistas que trabalham com isso. O que vamos fazer? Cruzar os braços e desistir? Não é sensato desistir, temos que continuar. Se você consegue fazer a sua vida se tornar sustentável, se tornar próspera, já é uma grande coisa. E se, consequentemente, você pode irradiar isso para quem está ao seu redor, já é uma grande coisa. 

Então eu estou trazendo três pontos hoje: estou falando de erradicar as crenças que dizem que a pobreza é espiritual e, consequentemente, que tem alguma coisa errada em ser próspero e até mesmo em ser rico. Segundo ponto: se lembrar de que é você que está criando isso, que você está onde você se coloca. Isso tem a ver com uma esfera pessoal e coletiva. Terceiro ponto, que parece até que não está conectado com os dois primeiros, mas está absolutamente relacionado, que é a mecanicidade com que nos reproduzimos. E esses três pontos estão, por sua vez, intimamente relacionados com a repressão sexual, que é outra ferida que precisa também ser tocada. E como haver paz se não houver prosperidade? Talvez eu devesse ajustar o discurso e dizer que estou trabalhando para criar uma cultura de prosperidade e de paz. Porque não é possível haver paz se não houver prosperidade. Não é possível haver paz enquanto houver esse sentimento de miséria. Mas eu uso o oposto - digo que estou criando uma cultura de paz e prosperidade - porque é mais fácil eu ser ouvido. Porque, como você mesmo disse, “é um pouco mais compreensível. Paz eu consigo compreender. Eu preciso de calma”. Paz está relacionada com essa paz interior. Paz está relacionada com harmonia na vida, nos relacionamentos; é mais fácil. Especialmente para quem briga tanto. É mais fácil de entender: “Eu preciso parar de brigar tanto, eu preciso de paz na minha vida”. 

E se eu falo que precisamos criar uma cultura de prosperidade, eu vou tocar nessa confusão interior a respeito do significado desse conceito, que está relacionado a alguns milênios de condicionamentos. Nós criamos uma pobreza e nos tornamos dependentes dela. Eu estou falando de religião, eu estou falando de economia, estou falando de política, que são sistemas que precisam da pobreza para sobreviver. Nós temos que começar a pensar numa economia espiritual, numa política espiritual, numa religião espiritual. E não mais nesses sistemas que exploram o sofrimento alheio e, consequentemente, de si mesmos. Porque a pessoa se torna um agente no meio desse círculo vicioso e nem sabe que ela é um agente no meio dele. Ela está inconsciente, não sabe que é um canal do medo. Ela não sabe que é um canal do sofrimento. Por isso eu falei que se você fosse realmente se abrir, querer ouvir sobre o meu propósito, você iria achar que eu sou megalomaníaco. Nesse sentido, eu te convido a ser megalomaníaco também! Convido você a sonhar grande. Porque, nesse momento da transição planetária, a gente não pode pensar em ser feliz sozinho, não pode querer ser próspero sozinho. Tem que ser para todos, para quem está maduro o suficiente para compreender. 

Talvez um bom começo para quem está nesse capítulo do livro da vida, quem está sendo obsediado pelo medo da escassez, seja compreender que tem alguém dentro de você com medo. Quem é esse que está com medo? Não é você! Não é o seu Eu real! É uma personagem da sua história, uma personagem que está seguindo um script, um script feito de crenças. E você tem que conhecer essa personagem e esse script para poder rasgá-lo: “Ok, chega! Não vou mais atuar nessa peça. E aí, não vou mais atuar nessa personagem - game over!” Você pode fazer isso, te garanto que você pode. Você pode, nesse momento, talvez não saber como, calma! Mas se você chegou até aqui e está ouvindo esse discurso, você está perto. Já, já, chega o que está faltando para você: dar alforria para essa personagem; deixar ir essa personagem e libertar o ator. Libertar o ator da escravidão de ter que fazer essa personagem. É possível! Eu não sei te explicar como eu sei. Eu só sei que eu sei! Eu sei que é possível. Você não está condenado à pobreza! Você não está condenado à miséria, ao sofrimento, não! Você pode ser feliz, você pode ser próspero, pode ter prazer, você pode. Você pode amar, ser amado, você pode. Você pode celebrar a vida, isso é um direito legítimo seu. Se você não tem isso, você deve exigir os seus direitos. E quem tirou esse direito de você foi alguém dentro de você mesmo. 

Então é isso que eu quero dizer quando estou falando de criar uma cultura de paz e prosperidade. Está mais claro agora? 

Abençoado seja cada um de vocês. Que possamos nos afinar com os códigos divinos da prosperidade e da abundância.

Até um próximo encontro.

NAMASTE.