Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

Liberdade para Amar: Condição para a Paz e para a Prosperidade
O amor desperto é condição para a construção de uma cultura de paz e prosperidade. Importância do amor materno para a estruturação da consciência. O despertar do amor e os desafios da jornada, através dos relacionamentos. Aprender a lidar com as emoções reprimidas e condicionamentos mentais para curar as feridas internas. Relação entre medo e desejo. Identificação e cura das imagens congeladas. Cura do medo da solidão e de outros medos. Viver as alegrias e misérias do amor humano para viver o Amor Divino.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
4/3/2017

(Os músicos tocam uma versão de Ave Maria)

Prem Baba: Estão chamando um colinho de mãe, um carinho dela. Quem não precisa de um carinho de mãe? Quem não precisa de um colinho em algum momento? Alguns buscam, no colo da mãe, força para continuar. Alguns buscam o amparo que nunca sentiram, buscam um carinho de mãe desconhecido, porque nunca tiveram, mas fica o sentimento de falta. É um amor que nutre, este é outro ponto bastante delicado. É como uma coluna central de todo o processo de estruturação da consciência neste plano, que está relacionado com o tema de hoje. 

Temos muitas boas perguntas. Muitas delas são desdobramentos do discurso de ontem. O tema da prosperidade versus pobreza mexeu com muita gente. O trabalho segue profundo. Vou começar com essa questão:

Pergunta: Amado Baba, o seu discurso sobre prosperidade e abundância ecoou profundamente em mim. Algo aconteceu comigo, eu não sei explicar, mas minha visão abriu e hoje vejo coisas que ontem eu não via. É incrível, obrigada. Então é correto dizer que a paz e a prosperidade só são possíveis quando amamos? 

Prem Baba: É isso. Sua pergunta mostra que você está me ouvindo, é exatamente isso. A paz e a prosperidade são uma consequência do amor desperto, por isso eu tenho colocado tanto foco e tanta energia nesse processo de despertar o amor. E, para você desvendar o amor, inevitavelmente vai precisar passar na difícil prova do relacionamento. A sua dificuldade varia de acordo com aquilo que você recebeu de amor durante a infância, porque quanto mais você sofreu devido aos choques de desamor, maior é a sua carência. Consequentemente, maior é o seu medo da solidão e mais fortemente os jogos da luxúria atuarão através de você. Me refiro à ideia de que você pode controlar o outro; de que pode transformar o outro e que sua felicidade depende da forma como o outro te trata. 

A dependência do outro gera a codependência e tudo isso é recheado com as falsas crenças sobre a sexualidade. Portanto, essa não é uma prova fácil. Mas você só pode viver o amor divino (que é sinônimo de desvendar o amor ou acordar o amor) depois de passar pelas alegrias e misérias do amor humano. Isso parece ser uma lei neste plano. Obviamente, para passar nessa prova, você terá que aprender a lidar com as emoções, com os sentimentos suprimidos e com os condicionamentos mentais, até que você possa ir superando todas as suas mazelas. É natural que você se choque com as descobertas sobre você mesmo, com os condicionamentos que construiu ao longo do tempo e com o quanto está atado a eles. Isso faz com que a jornada seja bastante desafiadora. 

Por exemplo:

Pergunta: Como posso direcionar a energia para mim mesmo? Tem uma parte em mim automaticamente procurando alguém fora o tempo todo.

Prem Baba: Às vezes isso acaba se tornando um vício. Você pode até estar com alguém, mas não consegue relaxar, não consegue se aprofundar nos mistérios da relação, no amor e na união. Isso acontece porque você está viciado em olhar para fora. É natural que o masculino em você busque pelo feminino e que o feminino em você busque pelo masculino. Eros é um aspecto da consciência que busca a fusão e a experiência da unidade. Essa é a força que te move em direção à realização que ocorre quando o masculino e o feminino se encontram dentro de você. Mas, muitas vezes, para propiciar essa alquimia interior, você precisa parar um pouco, precisa se voltar para dentro. Como você vai fazer isso se você se sente completamente ameaçado ao olhar para dentro? Você se viciou em olhar para fora, porque se sente ameaçado de olhar para dentro. 

Como você diz aqui:

Pergunta: Meu amado Guruji, a solidão é algo que me assombra. Tenho um medo paralisante de estar ou ficar sozinha. Sei que vem do abandono materno e paterno que sofri na infância. Mesmo sabendo que não sou aquela menina indefesa, continuo com medo e me coloco em situações ruins por causa do medo da solidão.

Prem Baba: Essa solidão será iluminada quando você puder entrar nela e se colocar presente; quando puder estar inteiro nesse núcleo interior. Então, você vai descobrir que esse medo é como um fantasma; é o medo de reexperimentar o abandono que você sofreu um dia. Mas, inevitavelmente você precisará entrar nesse abandono e respirar nele para, aos poucos, se colocar presente nesse núcleo de memória, até que você possa perceber que isso é somente um sonho. 

Você está com medo de um sonho, mas um sonho que tem base em uma situação que sua personalidade realmente viveu. Você, enquanto personalidade, foi abandonada e isso doeu. E a dor ainda está aí. É essa dor que gera esse medo. E a única maneira de se libertar da dor é entrando nela, se colocando presente. Quando puder fazer isso, você compreenderá que já passou e que essa dor é apenas um resíduo de memória. Isso pode estar impregnado no seu corpo físico, no seu sistema nervoso e nas suas glândulas mas, na medida em que se coloca presente nesse núcleo, você muda essa programação. Quando você se coloca presente, a consciência se expande e pode gerar uma modificação até mesmo na sua estrutura celular. 

Talvez, antes de poder colocar-se completamente presente, você precise liberar sentimentos guardados, pois isso é uma das coisas que te impede de ficar sozinha consigo mesma. Entendo que isso é algo que está além do seu domínio. Você tem medo, porque sente que será devorada pela solidão. Você é tomada por um pânico, então acredita que não vai dar conta de ficar só. E isso acontece, porque foi exatamente isso que você viveu quando era criança. Você se esgoelou de tanto chorar por que não tinha um colo. Para uma criança, tão frágil e vulnerável, é realmente difícil passar por essa experiência. Por isso o choro, às vezes, é o resultado de uma dor que não conseguimos descrever. A criança é um ser muito pequeno e frágil diante de um mundo tão grande, inóspito e desconhecido. E às vezes você se sente como uma criancinha, sozinha e desamparada. Tentando encontrar palavras para descrever esses sentimentos guardados, costumo dizer que é um medo aniquilante, aterrorizante e mortificante. E é isso que, muitas vezes, o adulto sente diante da possibilidade de ficar sozinho. 

Você também se depara com esse medo quando se permite realmente aprofundar numa relação íntima com outra pessoa, porque a intimidade inevitavelmente te leva para esse núcleo interior profundo. A intimidade real te despe das suas defesas, das suas armaduras. Você se torna vulnerável. Você entra nesse espaço de fragilidade e por isso você fica tentando fugir. Mas, se você conseguiu chegar até aqui, isso significa que esse confronto consigo mesma está por vir. 

Perceba como é profundo esse processo de forjar os alicerces de uma cultura de paz e prosperidade. Para haver paz e prosperidade de verdade, precisamos amar de verdade. E para amar de verdade precisamos passar na prova dos relacionamentos. Do contrário, teremos apenas vislumbres da paz e da prosperidade - na mesma medida dos vislumbres de amor e presença durante os relacionamentos. 

Quando falo de relacionamento, estou me referindo aos relacionamentos em geral. Algumas pessoas não conseguem se relacionar bem nem mesmo com um cachorro ou com um gato. Sempre acham um jeito de brigar até mesmo com o cachorrinho e se tornam codependentes. Elas dependem do latido do cachorro; se o cachorro late para elas ou não. Por isso eu uso o termo ‘prova’, por que o relacionamento vai propiciar a oportunidade de cura das suas feridas emocionais. E a cura envolve autoconhecimento. 

Pergunta: Querido Guruji, ontem você falou sobre medo e desejo. Isso me ajudou a entender a minha relação com a comida, com o dinheiro e até sobre o meu propósito. Mas uma dúvida assustadora veio na minha mente. Meu maior medo na vida é de ser estuprada, isso significa que em algum nível do meu psiquismo eu desejo isso?

Prem Baba: Infelizmente. Isso é matemática psíquica. Pesquise e você encontrará que existe lógica nisso. Aquilo que você mais teme, você deseja, por mais maluco que possa parecer. E, às vezes, é maluco porque está relacionado com algum trauma, com alguma impressão ou programação feita durante a sua jornada à qual você não tem acesso,  pois ficou completamente inconsciente. Nesse caso, você vai precisar investigar essa relação entre medo e o desejo do estupro, então você poderá se surpreender com as descobertas. 

Esse é um tema delicado. Porque uma pessoa desejaria ser estuprada? Porque uma pessoa desejaria ser rejeitada? Porque uma pessoa desejaria ser maltratada e traída? Porque uma pessoa desejaria morrer? Cada qual tem a sua história e por mais que seja somente uma história, enquanto você não se desidentifica dela, isso será tão concreta quanto pedra. São essas histórias que governam sua vida.

O que faz uma pessoa diabética comer açúcar? O que faz uma pessoa que deseja sentir-se segura financeira e materialmente gastar muito mais do que ela ganha? Você pode encontrar muitos argumentos, mas o fato é que tem uma parte em você que quer se machucar. Isso ocorre porque, em algum momento, você acreditou que, desse jeito (mesmo sendo um jeito torto), você receberá o afeto que tanto necessita. E isso vai te dar um cheiro do colo da mãe. Você foi programado dessa forma. Eu uso o termo ‘imagem’ para designar esse condicionamento congelado no seu sistema. 

Imagine uma criança no berço chorando porque sente fome ou por algo que está doendo, ou ainda, por estar precisando de atenção e colo. A criança não tem o intelecto desenvolvido para entender que a mãe está distante, porque está preparando comida para ela. O cérebro da criança é a sua pele, ela precisa sentir o amor, através do toque; ela precisa do contato físico para sentir o amor. Vamos supor que a criança está no berço e sentindo falta de alguma coisa, mas a mãe entende que não pode pegá-la no colo, porque ouviu dizer que isso vai “estragar” a criança. Então, ela só vai quando a criança para de chorar. Isso é muito comum. Então a criança começa a entender que, para ter suas necessidades atendidas, ela não pode chorar. Ela fica com essa imagem congelada dentro dela e isso gera a crença de que, para ter as necessidades atendidas, ela não pode expressar sentimentos. Isso funciona dessa maneira com a mãe, mas irá funcionar da mesma maneira no futuro, com as pessoas com quem ela se relaciona. Essa criança vai crescer e se transformar numa mulher e é provável que ela tenha dificuldade para se relacionar. Por quê? Por causa dessa imagem congelada, que diz que ela só terá suas necessidades atendidas se não expressar seus sentimentos. Isso funcionou com sua mãe, mas não quer dizer que irá funcionar com as outras pessoas. Muitas pessoas, ao contrário, precisam que você expresse seus sentimentos para que possam entender. 

Esse foi um pequeno exemplo de uma imagem congelada. Então, no caso de uma pessoa que tem dificuldade de expressar os sentimentos, ela precisará ir buscar dessa imagem dentro dela, pois é isso que está gerando essa dificuldade. Podemos dizer a mesma coisa para aquela pessoa que sente atração pelo perigo ou por uma situação ruim, que machuca. Ela se sente atraída pela rejeição ou pelo desrespeito. O que é a pornografia senão atração pelo desrespeito? 

Nesse caso eu sugiro que você vá atrás das suas fantasias sexuais, pois elas têm muito para te dizer. Elas podem te levar até essas imagens congeladas. Ir atrás não significa realizar suas fantasias. Não estou dizendo para você fazer isso (até porque muitas fantasias são cruéis e perversas, recheadas de ódio); o que estou dizendo é para você procurar olhar e reconhecer as suas fantasias inconscientes. Muitas vezes, você foge disso porque sente vergonha, já que elas não condizem com a moral que foi transmitida através da sua educação ou da sua religião. Esses condicionamentos não permitem que você se abra para esse estudo que é apenas consigo mesmo. Eu sugiro que você se abra para estudar isso, pois é um material de escola fundamental. 

Se você tem, por exemplo, um desejo por um estupro, você precisa estudar isso. De onde está vindo isso dentro de você? Qual a imagem congelada que você mantém guardada aí nos porões do inconsciente? Por que você precisa estudar isso? Porque isso é um obstáculo para você se realizar, obstáculo para você amar. Se continuar guardando essa imagem, você não vai querer saber de amor. Se alguém é mais gentil e mais doce com você, você perde o interesse, porque seu eros deseja aquele que te maltrata. Sua energia erótica só vai para a direção daquele que, de alguma maneira, te estupra. Esse foi o caminho psíquico que eros precisou encontrar para tentar chegar à fusão; para chegar num sentimento de unidade. Mas esse é um caminho torto, que foi desenhado, porque você precisou se proteger e a sua energia sexual acabou se conectando com o sofrimento. Então você busca experienciar a união através da dor. E, na verdade, o que você faz é sabotar a possibilidade da união. Então, é preciso descongelar essa imagem e, para isso, primeiro você precisa identificá-la. 

Outra possibilidade é quando a graça divina te pega e dissolve a imagem, mesmo sem que você tenha tomado consciência dela. O vício cai e você não sabe nem por quê. Mas esses são casos especiais. Normalmente você precisa mesmo identificar e descongelar a imagem. E o que descongela é a compreensão. Trata-se de um processo que começa com a identificação do seu vício. Quando eu falo de vício estou me referindo ao uso distorcido da energia da vontade. Essa energia está sendo usada para maltratar ao outro e a si mesmo. É uma forma de autopunição, de auto-ódio. E tudo isso vai se manifestar nas suas relações, sexuais ou não, mas nas relações afetivas. Quanto maior o vínculo afetivo, mais intensamente a energia vai te mobilizar, mais vai mexer com você. 

É por isso que eu digo que tudo se resume no amor. Porque se você ama, se você se torna o amor, significa que você se libertou dessas mazelas; significa que você se desidentificou da sua história e superou a carência afetiva. E você se libertou do passado porque chegou a uma harmonia com a sua mãe, com o seu pai e com toda a sua família. Você pôde chegar à gratidão e ir além do pequeno eu. Por isso é correto dizer que a paz e a prosperidade só são possíveis quando amamos. Perfeita compreensão. 

É tudo matemática. Eu estou dando aula de matemática, percebe? Por isso eu digo que aquela pessoa com quem você está tendo dificuldade em se relacionar não é seu inimigo, é seu professor. Às vezes é difícil aprender a matéria. Quando você está sonhando profundo é muito difícil acordar, porque o sonho te embala. E às vezes é um sonho onde você está se maltratando muito. Perceba como é fundamental ressignificar a ideia de trazer uma criança para este mundo. Falando de mudança de cultura planetária, temos que ressignificar o casamento e o processo de trazer uma criança para este mundo. Isso é básico. 

Eu estou muito feliz por você estar compreendendo. Ótimo. Não estou jogando sementes em lugar impróprio, não estou jogando pérolas aos porcos. Ótimo. Isso me motiva a seguir jornada.

Abençoado seja cada um de vocês. Que possamos nos sentir livres para amar. Até um próximo encontro. 

NAMASTE