Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.
Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.
Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.
Cristalização do eu inferior e o risco de ser absorvido pela matéria. A necessidade de conhecer o eu inferior para então desconstruí-lo. Ego espiritual. Não é possível queimar etapas. Viver envolve correr riscos. As percepções se transformam à medida em que a consciência se expande. A importância da capacidade de não se prender a um desfecho determinado. Culpa pela realização material ou dos desejos do ego. Desconstrução da máscara. Libertação das crenças e transformação do conhecimento em sabedoria, através da experiência. Propósito nas várias etapas da vida. O coração conhece o caminho. A intuição é a emancipação da razão.
Pergunta: Querido Mestre, desde que te encontrei, minha vida virou de cabeça para baixo. Desconstruí severamente o falso espiritual que havia em mim. Hoje, tudo o que eu quero é viver a minha vaidade, meus sonhos de fama, de sucesso e dinheiro sem culpa, sem medo de estar errada. Por favor, fale um pouco sobre o que você vê disso.
Sri Prem Baba: Eu vejo que o falso espiritual em você ainda não foi 100% desconstruído e é ele quem busca a minha aprovação para você ser famosa, para você ter dinheiro. Ainda existe uma culpa de se realizar na matéria. É muito profunda a necessidade de agradar através da falsa espiritualidade. Portanto, existe um profundo medo de desamparo. É como se, ao permitir-se realizar na matéria, você fosse para o inferno.
Muitas religiões condenam a realização material e essa condenação acaba se tornando a condenação da sua própria liberação, porque você interrompe o seu processo de amadurecimento.
O falso espiritual não é você. Você pode compreender isso e iniciou um processo de desconstrução dessa máscara. Isso propiciou que o eu inferior se revelasse, possibilitou que a sua vaidade se revelasse, sua ambição, seus desejos. Esse eu inferior – e usamos a palavra inferior porque é preciso encontrar uma linguagem que descreva da melhor maneira o fenômeno que se dá no seu mundo interior – esse eu inferior também não é você. É mais você do que a máscara. Esse eu que deseja poder, fama, dinheiro estava debaixo da máscara e, ao desconstruir a máscara, foi esse eu que se manifestou. Mas ele não é você ainda.
Assim como você compreendeu a máscara a ponto de poder desconstruí-la, você precisa também compreender esse eu inferior, para que você possa se desidentificar dele. E, para compreendê-lo, talvez ele precise se cristalizar um pouco. Você não está permitindo que ele se cristalize porque está sendo obsidiada por crenças de que é errado se realizar materialmente, de que talvez seja perigoso, talvez seja uma grande armadilha do ego, talvez, ao se mover em direção à realização material, as portas do céu se fechem para você.
Isso pode acontecer. Isso é um risco que você corre, mas viver inclui correr riscos. É possível que você seja absorvida pela matéria. Para não correr esse risco, o que você faz? Você se reprime.
Eu estou dizendo que essa crença que te impede de se realizar na matéria pode até ser verdade, mas você precisará descobrir isso por si mesma. Se faz necessário você se libertar de toda crença e transformar o conhecimento em sabedoria, através da experiência. Eu tenho dito que a evolução se dá gradualmente, um chakra após o outro. E existem passagens nesse processo de amadurecimento que não há como evitar. Eu tenho dito que se faz necessário você chegar a um acordo com o desejo. Chega um momento em que você sente que já se satisfez e não é mais isso que você quer. Aí você está pronto para se desidentificar desse eu desejoso. Mas é possível, sim, que você entre num redemoinho de desejos. Você precisa experienciar, por você, que o desejo é um poço sem fundo, senão vai ser só uma teoria; mais um conhecimento que você tomou emprestado.
Quando você está nesse processo, você se dá conta de que a repressão é um veneno, mas a indulgência também é. Aqui, você está começando a descobrir que a repressão é um veneno e você está se permitindo se desreprimir, está se libertando das crenças que condenam a possibilidade da realização material, está perdendo o medo de ter dinheiro, perdendo o medo de ser famoso, perdendo o medo de ter sucesso na matéria, está cristalizando esse eu. Essa é uma parte do processo. Está se libertando da repressão e dos venenos que se desdobram dela. Está se libertando dos fantasmas que dizem para você: “Isso não pode, isso é errado, isso não é certo”. Você está limpando a sua mente de um lixo ancestral. Porque é lixo, bobagem.
A verdade é que você pode qualquer coisa. E é importante que você descubra esse poder. E aí, em algum momento nesse processo, você vai descobrir que a indulgência também é um veneno e você vai perceber que esse eu que deseja tanto poder também não é você, e que com esse poder, o que você quer é só agregar valor à ideia de eu. Se você tem poder, tem dinheiro, tem fama, você se sente mais EU. Mas esse eu também não é você. Aí você descobre que este mundo é muito bonito, mas se você não estiver atento, ele te pega.
Uma coisa é você ser senhor da matéria, outra coisa é você ser um escravo dela. Enquanto você está identificado com esse eu que quer ter poder, você é escravo da matéria, porque você depende dela para ser feliz. Você depende de ter poder, fama, dinheiro para se sentir empoderado, para se sentir alguém. E quando você se desidentifica desse eu, a matéria está a seu serviço.
Existe uma história na nossa linhagem contando que o rei da Inglaterra, George V, veio para a Índia e estava à procura de um santo verdadeiro. Ele queria conhecer um pouco desse mistério e foi até Kacha Baba e fez pronam para ele. Ele reconheceu um poder maior no Kacha Baba e fez pronam para ele e disse para Kacha Baba: “O que é que eu posso te dar?” E Kacha Baba respondeu: “Mas o que é que você tem para me dar?” Ele disse: “Eu posso te dar qualquer coisa. Eu sou o rei da Inglaterra. Eu tenho um reinado. Eu posso te dar qualquer coisa”. E Kacha Baba disse para ele: “O seu reinado é só um pequeno pedacinho dentro do meu. Se tem alguém que pode dar alguma coisa para alguém aqui, sou eu que posso dar para você alguma coisa”.
Então, quando você pode se identificar com o Eu Maior, você tem a matéria a seu serviço. Mas esse é um processo que se dá com a maturidade, não se podem queimar etapas. Você precisa ter um ego para entregar. Você identificou um jogo na sua personalidade onde você agia através de um ego espiritual, que eu chamo de máscara; é o jeito como você aprendeu a sobreviver aos choques da vida. “Se eu for uma pessoa elevada espiritualmente, vou ter as minhas necessidades atendidas”. Mas, como você ainda não está nesse estágio de elevação, você finge isso. Com isso, você tenta manipular o outro para ter as suas necessidades de carência atendidas. Você começou a desconstruir isso porque você viu: “Isso não sou eu. Eu não sou a máscara”. Daí o que apareceu foi o que estava logo abaixo da máscara. E o que estava logo abaixo da máscara é um eu desejoso de poder, de fama, de sucesso, de dinheiro. Excelente! Eu digo que essa também é uma medida de sucesso dentro do trabalho de autodesenvolvimento.
Você está reconhecendo o seu eu inferior, mas esse eu também não é você. Assim como você precisou compreender que a máscara não é você, você vai também precisar compreender que esse eu desejoso de poder não é você. Mas, para isso, você vai precisar dar um pouco mais de corda para ele; mesmo correndo o risco de ser engolfado por ele.
Você quer viver sem correr risco nenhum, mas isso não existe aqui neste mundo. Eu tenho dito que a vida é um mistério a ser desvendado com o coração. Você vai desvendando a vida. As percepções vão se transformando à medida em que a sua consciência se expande. É por isso que eu tenho dito que é extremamente valioso desenvolver a capacidade de não se prender a um desfecho determinado para as coisas, porque tudo neste mundo se transforma. O Eu Maior é uno. Só o Eu Maior é uno. Tudo o mais se transforma, inclusive aquilo que se desdobra do Eu Maior. O amor vai amadurecendo, a confiança vai amadurecendo, a gratidão vai amadurecendo, as dimensões do amor vão também se modificando; quanto mais aquilo que se deriva da ilusão!
Você me pergunta:
Pergunta: O propósito da alma pode se modificar ao longo da vida?
Sri Prem Baba: Pode se transformar. Você nasce com um propósito, mas a maneira de realizá-lo, muitas vezes, vai se transformando. É interessante observar algumas pessoas que estão bem enraizadas no mundo, que se sentem bem encaixadas no trabalho e que estão manifestando no mundo o seu propósito, mas que chegam num estágio em que parece que a coisa se esgota. E até surge uma expressão que eu considero bastante interessante; a pessoa diz assim: “Eu preciso me reinventar”. Ou seja, ela está querendo dizer: “Eu preciso renascer; eu preciso encontrar uma nova oitava do meu propósito”.
É interessante observar que até os textos sagrados mostram isso. Por exemplo, neste momento eu me lembro do Ramayana, onde Rama vem com o propósito de aniquilar os demônios. Ele vem para cumprir o jogo de resgatar Sita, que havia sido raptada por um grande demônio, e tudo isso para realizar um leela divino, mas chega um momento em que ele completa esse lila e ele está reinando em Ayodhya. Alguns autores interpretam que nessa fase ele até perde um pouco do brilho divino, porque ele já havia cumprido o propósito e estava vivendo uma vida mais mundana. Então, até aí se abre essa perspectiva de Rama se reinventar e de se abrir para uma nova oitava do seu propósito, uma nova fase do seu propósito.
Quando você fica preso a um desfecho determinado, em que as coisas precisam ser de um determinado jeito, você limita a expressão da alma. Eu sinto que o caminho é você aprender a ouvir o seu coração e se permitir ser guiado por ele. Para onde o seu coração quer te levar? E uma maneira de você saber isso é sentindo alegria, sentindo entusiasmo. Você sente um conforto no corpo. Quando você se move na direção em que o coração está querendo que você vá, você sente alegria.
Isso vai ser diferente apenas se, por conta do karma, você se depara com alguns desafios. Você sabe que precisa estar num determinado lugar, mas aquele lugar, num determinado momento, não está podendo proporcionar tanta alegria assim, pelo contrário; às vezes está te proporcionando fricção. Mas você sabe que está no lugar certo e que está precisando atravessar aquela zona de turbulência para se purificar de alguma questão. Talvez tenham karmas se quebrando. Isso tudo já é um resultado do próprio propósito.
Mas, tirando esses momentos especiais de purificação onde você é desafiado e acaba tendo incômodos no lugar onde você tem que estar, de uma forma geral você sente alegria quando você está no lugar em que o coração quer estar. Você sente entusiasmo, a luz cresce, aumenta. A intuição aumenta, a percepção da sincronicidade aumenta. Essa é uma forma de você identificar a direção.
O coração conhece o caminho. Só o coração conhece o caminho. E às vezes o coração te leva a um lugar para que você cristalize um aspecto do eu inferior. E aí surgem os desafios. Mas se você não estiver preso a uma crença de como as coisas têm que ser, você vai perceber que a vida é como a água: ela vai seguindo em direção ao oceano. E você não sabe muito sobre isso.
Às vezes eu fico refletindo sobre a engenhosidade da vida humana. Eu acho a vida humana o máximo! É incrível, realmente. Se, de fato, houve um criador, era um gênio! Mas foi dado bem pouco entendimento para o ser humano a respeito desse jogo. Ele sabe muito pouco. Mesmo se houve um criador ou não: 99% das pessoas que acreditam que existe um criador não sabem do que estão falando; estão movidas por uma crença. Elas, de fato, não sabem disso.
O que foi dado para o ser humano saber? Eu vejo que hoje o ser humano sabe bastante sobre como envelhecer saudavelmente. Esses dias eu estava olhando um pouco na internet sobre essas coisas e fiquei maravilhado de ver tanto conhecimento. A pessoa sofre porque realmente tem um eu dentro dela que quer sofrer. A pessoa envelhece adoecida porque tem uma parte dentro dela que realmente está comprometida com a doença, com o sofrimento. Porque tem conhecimento que possibilita que a pessoa envelheça com saúde.
Foi dado ao ser humano conhecer algumas coisas da matéria. Só isso. O que mais o ser humano sabe? Acho que é por conta disso que o ego se tornou tão grande. Porque, se formos olhar mais objetivamente, o planeta Terra é um grãozinho de poeira há trinta mil anos-luz do centro da Via Láctea, que é uma galáxia dentro dos bilhões de galáxias que existem. E não é dado ao ser humano conhecer o destino dele. É dado a ele ter algumas pistas, às quais você tem acesso quando sabe ouvir o coração.
Ouvir o coração é como ouvir a alma do mundo. E a alma do mundo te guia através dos sinais, sincronicidade, algumas intuições claras que te possibilitam te mover, mas não te possibilitam ter certeza de que tudo se encerra ali.
Eu vejo pela minha experiência: desde que eu acordei e manifestei a presença divina de Prem Baba, meu propósito já tomou tantas diferentes formas... Na essência, é a mesma coisa: o propósito da minha alma é realizar o mantra:
PRABHU AAP JAGO
PARAMATMA JAGO
MERE SARVE JAGO
SARVATRA JAGO
Mas a maneira como isso se manifesta no mundo só vai se transformando. E se você se apega a um desfecho determinado – e com desfecho determinado estou querendo dizer que se você se apega a um modelo, se você se prende a uma crença de como as coisas têm que ser – você limita a expressão da alma, você limita a expressão do propósito.
É muito fácil você criar uma crença. A mente humana foi estruturada, parece que ela está dentro de caixinhas. Por isso que as estruturas sociais, religiosas acabam ficando tão identificadas com as tradições. A tradição tem uma função no jogo. Durante um tempo, ela cumpre um propósito. Mas chega um momento em que ela também não faz mais sentido.
Ao longo desses milênios da experiência humana, pelo menos daquilo que a nossa história consegue mensurar dos últimos dez mil anos, a gente vê a mente humana precisando criar crenças para ela se sentir protegida. Ela precisa se colocar dentro de caixinhas para ela se sentir amparada. Mas a água, quando fica presa dentro de uma caixa, fica estagnada, aí acaba criando bactérias e perde o seu propósito básico de saciar a sede. Com isso eu quero dizer que a alma precisa ficar completamente livre.
A liberdade é a qualidade máxima. Você precisa se sentir livre para seguir o seu coração, porque o seu coração conhece o caminho. O seu coração vai te levar para um lugar e você vai ficar nesse lugar por um tempo, mas não caia na armadilha de achar que a sua vida termina ali. Você não sabe.
Com essas palavras eu estou provocando a qualidade da água que te habita. Que você possa se permitir fluir sem se prender a nada. Não se prender nem mesmo à ideia de que você não pode se prender. Porque, às vezes, você precisa ficar um tempo em um determinado lugar. Às vezes, o que você precisa é de rotina. Às vezes, o que você precisa é de estabilidade. Precisa ter o horário certinho para chegar em casa, comer sua comidinha e descansar. E, às vezes, o tempo é a sua vida inteira.
Volto a dizer que não tem o que é certo ou o que é errado. O que é certo para um, é errado para o outro. E o que é errado para o outro pode ser o certo para você. Não se prenda a crenças! Procure ouvir o seu coração. Dê o seu melhor para essa aventura de seguir os comandos do seu coração. Viver intuitivamente é uma grande aventura, mas aos poucos você vai aprender que a intuição sabe mais do que a razão e que a intuição é um aspecto elevado da razão. A intuição é a emancipação da razão, é o estágio máximo de evolução, de maturação da razão. Dependendo de onde você olha, parece que a intuição não tem lógica. Mas a intuição também é absolutamente matemática. Mas é uma matemática desconhecida da mente. E o coração nos vai ensinando essa matemática.
Ok. Vamos seguir nos afinando com o coração.
Abençoado seja cada um de vocês.
Que possamos reconhecer a voz do coração e que tenhamos a coragem de segui-la.
Até um próximo encontro.
NAMASTE.