Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.
Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.
Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.
O poder de criação do pensamento. A condução do veículo pelo eu inferior que leva à escuridão. A importância de sustentar a Presença para conduzir o veículo em direção à expansão da consciência. Os vícios enquanto amortecedores e a necessidade de resgatar o poder da vontade para sentir autoconfiança. A prática de austeridades inteligentes durante o período do MahaShivaratri e o fortalecimento da vontade. Vícios como amortecedores, que evitam sentir a dor.
Sri Prem Baba: Eu lhe pergunto: Quem é você? Quem é você? Quem ocupa esse corpo? Quem está conduzindo esse veículo chamado corpo? Quem é você? Quem habita esse corpo? Quem é você? Quem habita esse corpo? Você se sente na condução do seu veículo? Você diz assim:
Pergunta: Amado Mestre. Sou viciado em diversão. Em momentos diferentes, isso toma formas diferentes, tais como drogas, sexo, pornografia, jogos de computador, ler notícias, assistir filmes, etc. Ultimamente, com a sua guiança e Graça, isso veio à minha atenção mais e mais, mas também se tornou mais forte e poderoso do que antes. O que estou fazendo de errado? Continuo no caminho do coração, mas temo que a minha sombra entre no comando.
Sri Prem Baba: Você está lutando com os seus pensamentos. Está em meio a uma grande batalha com a escuridão. Mas o que é a escuridão? A escuridão é a ausência da luz. Você está ausente. Por isso, há escuridão. A Presença é luz que dissolve a escuridão. Mas como você está ausente, o veículo está sendo conduzido por impulsos inconscientes que, em última instância, são pensamentos. Pensamentos que se originam da ideia de quem é você. Um eu que foi criado a partir de referências externas. Um eu que acredita numa história a respeito da sua biografia. Uma identidade sustentada por um sistema de crenças, que são informações que vieram de fora. Em algum momento você foi levado a acreditar que você é essa identidade, esse nome, essa personagem que foi machucada, que aprendeu a amortecer a dor através desses diferentes vícios. Um eu que aprendeu a se amortecer através de pensamentos e das energias que se derivam deles. Porque, quando tais pensamentos atuam no corpo e interagem com a vida, isso move energia. Quando tais pensamentos, através de você, utilizam uma droga ou pornografia ou qualquer outra forma de amortecimento que envolva crueldade, você move energia. Uma energia que, de alguma maneira, alimenta essa ideia de eu. Esse falso eu pode ser também compreendido como o eu sofredor. Ele nasce da dor e gera dor para continuar sobrevivendo. Mas todos esses pensamentos ou impulsos inconscientes são expressões da escuridão, que é a ausência da luz, ausência da Presença. Aqui, agora, não há vício algum. Não há nem mesmo desejo algum.
O seu desafio é sustentar a Presença; que equivale a dizer que o seu desafio é estar conduzindo o seu veículo. Porque, se você está no seu veículo como passageiro e o motorista não é confiável - e um impulso inconsciente jamais pode ser confiável - é certo que você acabará indo parar num lugar ruim.
Vamos supor que você esteja de passageiro no veículo e quem está no comando conduzindo o veículo seja o ciúme. Por mais que você esteja ali dizendo para ele: “Vá para tal lugar”, não é certo que ele te obedeça, porque o ciúme pertence à esfera da escuridão. É um eu completamente cego para qualquer outra coisa que não seja realizar aquilo que ele acredita. Ele é obcecado em agir de uma determinada maneira. Podemos perguntar: Seria possível educar um eu desses? É possível reeducar um eu inferior ou ensiná-lo a se mover em direção à luz? Que significaria o caminho para o desaparecimento dele? Porque, se ele é escuridão e a luz dissolve a escuridão, a reeducação de um eu inferior seria colocá-lo no caminho da dissolução dele, seria como levá-lo para a forca. Mas seria possível reeducar o eu inferior?
É possível. Mas tem que ter alguém para reeducar o eu inferior. É possível desde que você esteja na condução do veículo, e o impulso inferior esteja de passageiro. Aí ele vai tentar te dizer: “Vai por aqui, vai por ali”. Mas você, que está no comando, na condução do seu veículo, sabendo bem para onde você quer ir, escuta as sugestões do passageiro, mas não vai segui-las.
Claro que o processo de reeducação do eu inferior é uma metáfora. O que eu estou querendo dizer é que se faz necessário que você esteja sentado no banco do motorista. E claro que, dependendo de como tenha sido a sua jornada até aqui, é possível que quando você, de repente, comece a tomar consciência, você se dê conta de que o carro está lotado de caronas, de pessoas que você não sabe nem bem onde foi que pegou. Porque é quase como se você estivesse dormindo, daí você acorda e vê que o seu carro está sendo conduzido por um estranho e está lotado de pessoas que você nem bem conhece. Tem uma notícia: um gosta de droga, um gosta de pornografia, um gosta de jogos de computador. E eles ficam revezando quem é que conduz o veículo. Só você que não pega nele - no veículo. Só você que não dirige o seu carro. Aonde é que esse eu que gosta de drogas pode levar o seu veículo? Aonde é que esse eu que está viciado na pornografia leva o seu veículo? Percebe? Esses eus vão sempre para os mesmos lugares, que são específicos quadrantes da consciência conhecidos como infernos; são os infernos interiores.
E quando você toma consciência, é possível que você se assuste. É possível que você se assuste. E é possível que você tenha essa sensação de que a escuridão aumentou. E é possível que você se sinta realmente sendo tomado por essa escuridão. Mas isso é apenas uma questão de ângulo, de onde você está visualizando o fenômeno que está se dando com você. O que ocorre é que a sua visão abriu um pouco mais. Sua consciência expandiu um pouco mais e você está vendo coisas que antes você não via. Você está vendo aspectos da sua natureza inferior que antes você não via. Você está vendo tons da escuridão que antes você não via: era só escuro, você estava misturado nela, era tudo uma coisa só. Você e os pensamentos eram uma coisa só. E aí, quando você conseguiu se afastar um pouquinho – que é outra maneira de dizer que a consciência se expandiu um pouco – então a consciência se expandiu; significa que você pôde de alguma maneira assistir, testemunhar. Antes você estava embolado, misturado. Agora você conseguiu testemunhar um pouco. Então você está vendo coisas que antes você não via, o que te dá a impressão de que a escuridão cresceu. Mas essa escuridão sempre esteve aí.
Mas é verdade também que, mesmo que esses eus psicológicos sejam apenas pensamentos, eles têm autonomia, agem como entidades que querem continuar sobrevivendo. Aí quando sua consciência cresce um pouco e esses eus se sentem ameaçados, é possível que eles se agitem dentro de você. Isso também ocorre. Mas o que você pode fazer a respeito disso continua sendo ocupar o seu corpo, o que significa se distanciar.
Certa vez eu li uma história que falava a respeito de um homem que tinha acabado de chegar ao paraíso. Estava cansado porque havia sido uma grande jornada. E assim que chegou ao paraíso, ele encontrou uma árvore e se pôs a dormir debaixo dessa árvore. E era uma árvore de realização dos desejos. Porque no paraíso tem árvores de realização dos desejos. E o homem dormiu profundamente e aí, quando acordou e espreguiçou, ele sentiu fome. E ele pensou que bem que poderia aparecer um prato daquela iguaria que ele gostava. Aí, do nada, apareceu aquele prato. Ele comeu aquilo, se satisfez e aí ele pensou: “Estou com sede. Bem que poderia apareceu uma água fresquinha aqui para eu tomar”. Aí, do nada, apareceu uma água fresquinha para ele tomar. Aí ele tomou a água, saciou a sede. Até então ele não estava questionando de onde estavam surgindo essas coisas. Porque, quando você está com fome, você não é filosófico. Você não quer saber de onde vem; você quer saber de comer. Mas como ele tinha saciado a fome, a sede, ele começou a pensar: “De onde está vindo isso? Será que tem espíritos aqui?” Aí os espíritos apareceram. Aí ele pensou: “Será que esses espíritos são espíritos do mal, são espíritos cruéis?” Daí os espíritos começaram a aterrorizá-lo. Daí ele pensou: “Mas será que esses espíritos vão me matar?” E aí os espíritos o mataram.
Essa é uma bela história! Uma bela história que descreve o poder do pensamento. Aquilo que você pensa, você cria. A mente é a árvore de realização dos desejos. A questão é: Quem é, em você, que está pensando? Nessa mesma linha:
Pergunta: Babaji, outro dia o senhor falou da importância da austeridade para redirecionar os vetores da vontade. Ontem eu senti forte o chamado de iniciar uma austeridade: a do chocolate. Sim, eu trouxe vários chocolates na minha mala. E então todo dia eu saio do satsang toda mexida e revirada, vou para o meu quarto e busco conforto nos meus chocolates. Só de pensar em ficar sem eles, me dá um desespero. O que pode acontecer se eu parar de amortecer? Será que eu dou conta?
Sri Prem Baba: Ou seja: “Será que esses espíritos vão me matar?”
Quem é você? Quem habita esse corpo? Quem é, em você, que está precisando fugir da vida? Quem é você que está correndo tanto da vida?
Os vícios são amortecedores e é verdade que os amortecedores estão a serviço de evitar que você sinta dor. Pensamentos estão a serviço de ocultar outros pensamentos: pensamentos mais nucleares, que estão vinculados ao seu senso de identidade. Isso precisa ser atravessado. Você precisa resgatar o seu poder. Você precisa se sentir na condução do seu veículo. Do contrário, você jamais vai sentir confiança em si mesmo. E se você não confia na sua capacidade, você jamais vai se libertar.
É por isso que o fortalecimento da vontade através de uma austeridade inteligente é absolutamente fundamental. A austeridade inteligente é uma fundamental prática do iogue, porque é uma forma de ampliar o poder da vontade, é uma maneira de ir retomando a condução do seu veículo. Em outras palavras: Quem é que manda na sua casa? Quem é que manda na sua casa? Quem é que está chamando para se sentar à mesa com você? Quem é que está chamando para tomar o chá da tarde com você? Um crocodilo? Um rinoceronte? Você coloca um tigre para ver televisão com você na sala? Alguns, sim.
Hoje é a Lua Cheia de Shiva, é o primeiro dia do Mahashivaratri. De hoje até o dia 24 é o período conhecido como MahaShivaratri. Todo mês observa um Shivaratri, que é esse período da Lua Cheia até a Lua Nova, até que a Lua se esvazia. Mas um Shivaratri do ano é considerado especial, que é o Shivaratri desse período, deste mês, que é considerado MahaShivaratri. Então a cada dia um fragmento da lua vai se apagando. A Lua, que é a regente da mente, vai deixando de agitar a mente. Então nesse período os sábios costumam fazer austeridades. Quatorze dias de austeridades com o objetivo de fortalecer a vontade, com o objetivo de retomar o comando da sua casa, do seu veículo.
Quem manda no seu corpo? A sua língua? O seu estômago? São os impulsos inconscientes que comandam o seu corpo? A inveja, o ciúme, a possessividade? A gula? O medo? A vingança?
Então as austeridades inteligentes – e eu uso intencionalmente a palavra inteligente – porque a austeridade precisa nascer da compreensão: você só vai se propor a fazer aquilo que você está compreendendo. Uma austeridade que você não esteja compreendendo, não tem sentido. Então, por exemplo: se você identificou que está usando o chocolate para fugir de alguma coisa – e eu não estou falando mal do chocolate – mas no seu caso você identificou que está usando o chocolate para fugir de alguma coisa. E você já sabe que, para seguir adiante, você tem que enxergar do que é que você está fugindo, para que você possa se libertar do medo de fantasma. E para se libertar do medo de fantasma você tem que olhar o fantasma, até que você perceba que ele não tem poder sobre você. Então se você compreendeu isso, você vai precisar realmente segurar essa compulsão de comer chocolate.
Então a austeridade pode ser feita de diferentes maneiras. O objetivo é fortalecer a vontade. E muitas vezes você precisa resgatar a vontade de canais impróprios, porque muitos já têm um quantum de vontade desenvolvida, só que a vontade está sendo usada por canais impróprios. Nesse caso, a vontade está sendo usada para comer o chocolate. Naquele outro caso, a vontade está sendo usada para as drogas, para o sexo, para a pornografia, para os jogos de computadores, etc., etc., etc.
Estou me fazendo compreender? Precisa de vontade para fazer qualquer coisa compulsivamente. A energia da vontade é que move a compulsão. E essa energia da vontade precisa ser resgatada da compulsão. E para isso, você vai ter que ter a firmeza de dizer: “Eu não vou dar chocolate para esse viciado em chocolate dentro de mim. Eu não vou dar pornografia para esse viciado em pornografia dentro de mim. Eu não vou dar droga para esse viciado em droga dentro de mim. Afinal de contas, quem é que manda aqui nessa casa?”.
Então em algum momento você vai ter que ter a firmeza e a coragem de dizer: “Chega! Chega! Não alimento mais esse viciado dentro de mim”. E, sim, esteja pronto para olhar aquilo que está por trás. Mas cuidado para não ficar fantasiando aquilo que está guardado. Porque o que faz você sofrer são as fantasias a respeito do sofrimento. Porque a dor mesmo, que está sendo amortecida, dura pouco tempo quando você tira o amortecedor. Tirando o amortecedor, você chora no máximo cinco minutos. Estou até exagerando. O resto é você com dó de você mesmo. É um pensamento criado, de autocomiseração: “Coitadinho de mim”. E isso tem desdobramentos infinitos. Aí nessa hora você diz de novo: “Chega! Quem é que manda aqui nessa casa, gente, pelo amor de Deus?” Você é um iogue ou é um comedor de... de qualquer coisa? E você vai estar livre quando você puder comer um chocolate e não se perder nele. Daí você está livre, porque o chocolate não manda mais em você. Essa é uma linha de austeridade que é então, se libertar dos amortecedores.
Outra linha é fortalecer a vontade através da disciplina. Embora a remoção dos amortecedores envolva a disciplina, com o foco principal na batalha com o desejo, na outra linha, o foco, por exemplo, é a disciplina de sentar durante um período no mesmo horário para meditar. É você acordar cedo para meditar. A preguiça vai tentar te pegar e você passa a espada na preguiça. Conforme você vai amadurecendo, eu vou propondo austeridades mais severas. Por exemplo, acho fabuloso durante um período você acordar às quatro da manhã para meditar. Você bota o relógio para despertar, acorda, senta e medita por vinte minutos.
Não estou dizendo para você fazer, estou dando exemplos. Mas, no seu caso em particular, o que é que você pode fazer para fortalecer a sua vontade? É importante você saber que você precisa de uma vontade de titânio para reeducar o eu inferior, para completar a meta, que é acordar e sustentar o estado acordado. Porque as forças contrárias que operam contra o despertar nesse planeta são tremendas. Você precisa de vontade para renovar os votos a cada instante. Caiu, levanta. Caiu, levanta. Sem ficar com dó de si mesmo por ter caído, porque faz parte do jogo. Eu vejo que muitas pessoas desperdiçam muito tempo ficando com dó de si mesmas porque caíram. E ficam revoltadas, e ficam céticas. Aí o veículo é tomado por um eu orgulhoso: “Ah, não me ajudou, também não faço mais nada. Deus não me ajudou, então agora eu me revolto contra Deus”.
Meu amado, é importante você compreender uma coisa. Lá no Brasil tem um ditado que diz assim: “Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece”. Durante um tempo, é verdade. Porque quanto mais você expande a consciência, mais você percebe a escuridão que te cerca. E você precisa realmente ter vontade suficiente para seguir.
Portanto, austeridade inteligente é sinônimo de um princípio de renúncia. É um princípio de desapego. E ninguém se ilumina espiritualmente sem desapego. Eu lhe convido a escolher uma austeridade para você fazer durante esses quatorze dias. Cada um dá o que pode. Mas não se engane: “Ah, eu posso desapegar de metade do chocolate”. Aí não tem sentido! É melhor não fazer nada. Melhor não fazer nada. Espere o próximo Shivaratri. Talvez até lá você tenha elaborado melhor e esteja mais preparado para fazer essa prática. Mas se você já está podendo se mover em direção à renúncia e ao desapego, você já está podendo escolher uma prática de austeridade, esse é o melhor momento do ano para esse tipo de trabalho, porque tem sobre você a misericórdia de Shiva. Shiva é o compassivo doador da sabedoria, jamais deixa de atender um pedido dos seus devotos. É um período muito auspicioso.
Então eu estou propondo quatorze dias de trabalho, começando hoje. Aí vamos indo. Se aparecerem muitos espíritos querendo te assustar, lembre-se de que são apenas pensamentos criados por você mesmo. Independentemente de você estar fazendo uma austeridade “x” ou “y”, para que possamos nos aprofundar, precisamos de recolhimento. Mais silêncio, porque é o silêncio que possibilita o aprofundamento. Então o meu convite é para que, no mínimo, você possa dar uma horinha da sua tarde, da sua noite, para esse recolhimento. E, de uma forma geral, mesmo você estando na rua fazendo os seus passeios, dê o seu melhor para estar na condução do seu veículo. Se não está tudo claro, essa clareza chegará ao longo dos próximos dias. À medida que a Lua vai escurecendo lá fora, vai clareando aqui dentro.
Muito bem. Então vamos seguir viagem cantando.
Shiva é aquele que conquistou o desejo. Vamos aos poucos acordando Shiva dentro de nós.
Abençoado seja cada um de vocês.
Que o poder da vontade seja utilizado para a liberação.
Até um próximo encontro.
NAMASTE.