Satsangs

Sri Prem Baba: Eu lhe convido a se recolher por um instante. Um instante em que você alinha a coluna, respira suave e profundamente pelas narinas, em que se permite relaxar e abrir mão de toda expectativa. Permita-se estar aqui, agora, somente observando o fluxo de pensamentos, emoções, sensações, sem julgar ou criticar. Permaneça assim cultivando o silêncio e a calma no seu coração.

Quando quiser, lentamente abra os olhos e vamos seguir os nossos estudos, trilhando os caminhos misteriosos do coração, desvendando o Amor, a confiança e a realidade maior de quem somos. 

Recebi aqui muitas boas perguntas, que vou responder ao longo da temporada, mas hoje eu escolho uma.

Pergunta: Amado Baba, muito grato pelo satsang de ontem. Ele ainda ecoa em mim. Mas como seria na prática o viver de forma desprendida? Temo ficar apático. A vida às vezes é muito exigente. Não estou no mesmo lugar que o amigo que te escreveu - sei que estou na mente. Mas, por compaixão, me ajude a entender melhor. Por exemplo, olhando as áreas da minha vida, vejo que não posso estar bem na vida afetiva e financeira ao mesmo tempo. Agora, por exemplo, estou bem no afeto, mas estou apavorado com o meu negócio. Tenho a impressão de que, se eu me espiritualizo, não posso enriquecer. Está confuso. Se puder lançar um pouco de luz nessa minha confusão, serei muito grato.

Sri Prem Baba: Vou tentar. Vou tentar. 

A mente às vezes pode ser muito confusa. E é só o entendimento que nos permite ir além da confusão. Então vamos pouco a pouco. 

Primeiro, viver desprendidamente é uma maneira de você sentir entusiasmo. A possessividade - o apego - rouba a alegria de viver. Então a primeira confusão que eu percebo é que você está interpretando esse estado desprendido a partir de crenças: você acredita que, se você for desprendido, você vai se tornar apático. Isso é ilusório, isso é uma armadilha do eu sofredor para que você continue atado às coisas, inclusive às crenças. 

De forma prática, viver desprendido não significa que você não vai celebrar as maravilhas da vida. Muito pelo contrário, porque, se você é dependente das coisas, escravo do mundo, você não pode amar, não pode ver o brilho das coisas ou sentir alegria de viver. A alegria de viver está intimamente relacionada com a liberdade que só o Amor proporciona. Não estou dizendo para você se tornar uma pessoa isolada. Não estou falando para você se esconder numa caverna. Desfrute da vida, mas não se deixe prender por ela. Ame, ame todos, mas não tente amarrar esse outro no pé da sua cama, porque, se você fizer isso, você será incapaz de sentir alegria, você se tornará desesperado, atormentado pelo medo de perder. Ame, mas esteja pronto para deixar o outro ir quando ele quiser ir; se relacione, interaja, seja amigo, mas esteja pronto para dizer adeus quando o outro tiver que ir embora, porque, em algum momento, ele vai precisar dizer adeus. Em algum momento, ele vai se mudar para alguma outra cidade, vai para algum outro país ou vai para algum outro plano. E você vai precisar deixar ir. Você vai precisar agradecer e dizer: “Vá em paz. Vá feliz!” Viver de forma desprendida é viver em liberdade. Mas você só vive em liberdade se você estiver amando. Esse é um ponto que precisa ser compreendido. E esse Amor está aqui, agora. Esse Amor e, portanto, essa liberdade, estão entre o passado e o futuro. É a mente condicionada, presa ao passado e ao futuro que gera essa confusão e esse medo, que faz você refém, que faz você preso até mesmo às crenças. Porque tem muita crença te segurando aqui. 

Outra forma prática de viver desprendido: você pode ter dinheiro, mas não seja obcecado por ele. Desfrute do dinheiro, mas não faça dele a meta última. Ele precisa ser um resultado da expressão do seu propósito, do seu dom, do seu talento - uma consequência. Mas vai ser difícil você ficar bem com o dinheiro tendo a crença de que é errado tê-lo. 

Existem algumas religiões que acabam criando crenças as quais dificultam muito esse processo de acordar. Por exemplo, eu passei por muitas religiões, mas as que mais ficaram arraigadas em mim foram as religiões cristãs. Durante os primeiros anos da minha vida, eu fui cristão. E cresci ouvindo que era mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. Não sei você, mas, para mim, isso deu um trabalho! Porque eu tinha que escolher: “Ou eu sou pobre e vou para o céu ou ganho dinheiro e vou arder no inferno”. Agora estou livre disso, mas durante muito tempo eu tive que lidar com uma culpa de estar prosperando e isso era um verdadeiro inferno. Então, até me livrar desse lixo... Porque é um lixo mental. E não estou aqui dizendo que a religião não tenha os seus aspectos positivos. Estou falando do aspecto negativo, daquilo que realmente me impediu de relaxar. 

Então seria muito bom se você pudesse averiguar as crenças que lhe perturbam. Esse tipo de crença pode estar interferindo numa série de coisas dentro de você. Veja bem essa crença, por exemplo, de que se você se espiritualiza, não pode enriquecer. Imagine isso olhando pelo espectro de uma sociedade. Percebe como a sociedade precisa, de alguma forma, da pobreza? Perceba a maneira pela qual crenças como essa podem ser um dos principais instrumentos do eu sofredor. De onde vem isso de que o conforto e a prosperidade te impedem de entrar no reino dos céus? Isso é uma distorção grotesca. Porque prosperidade também é Deus. Não há nada de errado com o fluxo da prosperidade, da abundância. O que é errado é você se tornar escravo da matéria. É você fazer do dinheiro o seu Deus. O veneno é a sua possessividade, é o seu medo de perder, é o seu apego. Claro que é possível que outros "eus" psicológicos, outras matrizes da natureza inferior possam usar esse poder que é o dinheiro para intimidar, para exercer poder. Mas o veneno não é a prosperidade. O veneno é a sua escuridão, é a dor que você carrega, que fez você usar mecanismos de defesa sofisticados os quais usam o dinheiro para machucar. Essa crença é tremendamente nociva porque ela gera separação, alimenta a divisão rico-pobre, puro-impuro, santo-pecador. Essa crença é venenosa. É venenosa. E se você não pode ser próspero, é bem provável que você não possa ter prazer porque, se você percebe que não pode estar bem na área afetiva e na financeira ao mesmo tempo, o que é que você está me dizendo? Está me dizendo que você não pode ser feliz, que não pode ter prazer, que precisa sofrer de alguma maneira. Ou você vai sofrer brigando na vida afetiva, ou vai sofrer com medo da miséria financeira. Você está me dizendo que o prazer e até mesmo a paz de ter as suas necessidades atendidas são um perigo. Ou seja, o prazer, para você, é um perigo. Parece que o prazer é errado. Hum... O prazer é errado, hein? Sinto cheiro de uma culpa de sentir prazer! De onde vem isso? Vá atrás das vozes que dizem que isso é errado. Quem disse isso para você? Em que situação, em que condições? Vá atrás dessa programação. Programação é um outro nome para condicionamento. Você aprendeu isso quando era criança. Você foi envenenado por uma cultura distorcida, por uma religião distorcida. Isso não tem nada a ver com a verdade. Nada! Nada! Eu lhe garanto. Porque quando você entra mesmo na verdade, nada disso importa, tudo isso é coisa da mente: programações, condicionamentos. É um direito legítimo do ser humano sentir prazer. 

Olha só, preste atenção: tudo indica que tem crenças religiosas aqui. Distorções que aconteceram ao longo do tempo, porque eu não sei se Jesus disse isso - não vamos entrar nesse mérito. Mas vamos só considerar que são crenças religiosas distorcidas. OK, então você acredita que Deus o fez; portanto, Ele deve estar muito errado de fazer você desse jeito, precisando sentir prazer, que é uma coisa tão errada. Isso é uma crença! Não é real. Mas para você desprogramar isso, você precisa investigar como essa programação foi feita. E talvez o melhor caminho para você chegar nesses núcleos ou na raiz desses condicionamentos é você investigar a culpa e a vergonha de ter prazer, de ser próspero, de estar bem. Então a culpa e a vergonha são portas de entrada para o inconsciente, para você poder acessar essas raízes, que são momentos em que você foi contaminado pelas crenças externas. Lembrando que essas crenças são instaladas sempre com um mecanismo de chantagem emocional que os pais fazem, nessas alturas, já mecanicamente, inconscientemente: eles exigem que a criança seja de um jeito, que se comporte de uma determinada maneira e, quando ela não faz assim, eles retiram o amor. Eles punem com a retirada do amor. E isso é terrível para a criança. Você que já teve a chance de se investigar em algum grau, sabe do que estou falando. Você sabe o quanto doem rajadas de desamor. E eu considero que a principal rajada de desamor é a retirada da atenção, quando a criança não corresponde à sua expectativa, porque ela começa a achar que está errada e que você está certo, e ela tem que ceder à sua pressão para continuar recebendo alimento, proteção, energia. Assim o condicionamento vai sendo feito. Chega uma hora em que a criança se desconecta de si mesma por completo, ela não tem a menor notícia de quem ela é; passa a agir totalmente a partir do condicionamento. E as consequências são essas que nós estamos vendo. Eu considero que aqui sejam consequências bem brandas. Você ainda tem momentos bons no afetivo, no financeiro, oscila. Está ótimo, perto de alguns que não têm nada! Brincadeira à parte, estou querendo dizer que esses sintomas são brandos perto de alguns outros sintomas que são absurdamente destrutivos. Porque crenças como essa podem provocar desde uma depressão severa até suicídios. E a pessoa chega nesse ponto, porque sente que não consegue corresponder às expectativas. E com isso, vai sofrer a retirada do amor de novo. 

Então, viver de uma forma desprendida é viver de uma forma simples, mas sua mente se tornou tão complexa, que você não está compreendendo o simples. Não está podendo compreender o que é viver de uma forma desapegada. Isso significa que você se desconectou do seu coração. Quem é que você está querendo agradar? Quem é que você está tentando segurar? Ou o que você está tentando segurar? Identificou? Agora vai olhar para esse sentimento de insegurança que você acredita tanto que seja você. Não é você. Você é um herdeiro das glórias eternas. Se Deus é seu pai e você é filho dele, você é dono do mundo! Você não fica à vontade na casa do seu pai? Não muito? Mas que relação é essa? É a casa do seu pai, da sua mãe, que é a sua casa. É tudo seu também. Se você é dono de toda a riqueza, de onde vem o sentimento de que você é um mendigo? A auto-investigação é justamente o processo que te leva a verificar de onde vem isso para reconhecer o sistema de crenças e poder desmontá-lo. Para isso, você vai precisar correr riscos, vai precisar lidar com fantasmas. 

Eu estava há pouco contando uma parte da história deste corpo aqui - para poder me livrar dessas crenças, tive que correr riscos. Tive que desafiar aquilo que eu considerava sagrado até compreender que, na verdade, era só criação mental. Para você chegar a Deus, experienciá-lo, você tem que se libertar das imagens mentais que tem sobre Ele. Para você amar, tem que se libertar das fantasias que tem sobre o amor. Você só conhece o amor amando. Bem-vindo ao campo da experiência! Reconheço que pode ser tremendamente desafiador: o medo de pecar, de errar, pode gerar muito sofrimento. 

Mas o que é o pecado? 

Buscando a origem etimológica da palavra, significa errar o alvo. Portanto, significa você se desviar do dharma, sair do caminho do coração. Então essa crença é uma das raízes do seu pecado. Perceba o que alguns aspectos da religião horizontal distorcida provocaram neste planeta. O assunto é sério, profundo e complexo, porque tem ramificações para todas as direções. Porque, se precisamos solidificar a pobreza e o medo da escassez, é impossível para o ser humano sentir confiança e felicidade, liberdade. Se o medo da escassez é cristalizado, é impossível amar. Cristalizar o medo da escassez significa cristalizar apego, obsessão, compulsão, doenças psicoemocionais e toda essa estrutura doente que a gente vê neste planeta, essa política, economia e organização social doentes, porque é errado sentir prazer e você tem que ser apegado. Aí você solidifica o medo da escassez. Com isso você vai ter que competir, disputar, querer o que é do outro, pois tem medo da escassez, tem inveja, ciúmes. E então tem guerra e fome. Eu chamo isso de inferno. Percebe o modo pelo qual crenças como essa acabam prendendo a pessoa nos infernos da natureza? Porque a mente fica lá no lodo. Compreende? Muito profundo isso. Estou sugerindo que você seja livre. O coração sempre se manifesta com sabedoria. A inteligência criadora se manifesta através do seu coração. Vá atrás do que diz o seu coração sobre isso. 

Para concluir, digo que eu sei que você não acredita - está comprovado aqui no seu texto, então sei que você não acredita - mas você pode, sim, amar e ser próspero ao mesmo tempo. No problem! No problem! Mas você acredita que não, porque a crença está entranhada lá. E para desentranhar e transformar, você tem que identificar. OK? 

Você pode não ter nada e ter tudo. Compreende o que estou dizendo? Se você não está preso a nada, o universo te abastece de tudo o que você precisa. Aí eu ouço um pensamento ou outro assim: “Será? Será?” Vamos indo! Vamos seguir nossa navegação.

Abençoado seja cada um de vocês. Que possamos nos afinar com os códigos divinos da prosperidade e da abundância. Até um próximo encontro.

NAMASTE