Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

Aprender com os Desafios Durante a Transição Planetária
Permanência e impermanência. Parivartam, a Transição Planetária. Saturno, professor de 2017. Ódio e medo, círculo vicioso. Identificação com o céu ou com as nuvens. Nova maneira de viver em sociedade. O jogo do ego: medo e desejo. Equanimidade mental: estar no mundo sem se perder. Identificação com o imperecível e não com o efêmero. Alinhamento entre pensamento, palavra e ação. Reconexão com a espiritualidade.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
11/2/2017

Pergunta: Amado Guruji, esta semana, depois desses acontecimentos de violência no Espírito Santo – que é o estado brasileiro de onde eu sou – e de ter presenciado muito de perto uma cena de guerra entre a polícia e um movimento social, aqui no Rio de Janeiro, fiquei muito sensível. Estou com medo e achando que tudo é perigoso. Com medo de que esse mundo acabe a qualquer instante; que as pessoas enlouqueçam. Acho que estou identificada com o inconsciente coletivo ou algo assim. Isso está indo e voltando em mim. Como atravessar esse Parivartam sem enlouquecer?

Sri Prem Baba: Sempre haverá um mundo acabando e outro renascendo. Esse é o poder de Shiva: a transmutação de uma coisa em outra. Existem dois fenômenos acontecendo simultaneamente nesse plano da existência. Um é a impermanência e o outro é a permanência.

Talvez uma metáfora que nos ajude a compreender seja a do céu e das nuvens. As nuvens estão sempre se movendo, aparecem e desaparecem. O céu permanece sempre o mesmo. As nuvens não podem contaminar o céu. As nuvens não podem interferir no céu. Às vezes as nuvens são claras, às vezes são escuras; às vezes elas estão vazias e às vezes, carregadas de tormenta. No entanto, não interferem no céu. O céu continua o mesmo. Existem momentos nos quais o céu está limpo e reflete a luz do sol em diferentes tons. E há momentos em que o trânsito das nuvens é tremendamente intenso.

O que ocorre é que nesse atual ciclo do tempo, o fluxo das nuvens é bem intenso. Se 2016 foi intenso, ano regido pelo Sol, o que esperar de 2017,  regido por Saturno? Saturno é o grande professor, mas é absolutamente severo! Ele exige que você de conta da verdade. Saturno exige coerência. Coerência entre pensamento, palavra e ação.

O sol nos dá clareza, possibilita enxergarmos nossas contradições e incoerências; mas Saturno vem exigir o ajuste. Você atravessará esse ciclo do Parivartam – que é uma grande transição planetária – se você se identificar com o céu e não com as nuvens. Quando você puder se identificar com aquilo em você que não se divide, aquilo que não se altera, poderá assistir tudo que estiver acontecendo lá fora, sem se perder. E desse lugar de equanimidade, você pode, inclusive, ter o que oferecer para quem estiver perdido; para quem estiver identificado com as nuvens passando. Porque, se você estiver identificado com a nuvem, você não tem o que oferecer e reage ao que estiver acontecendo ao seu redor, intensificando ainda mais os conflitos. Surgem guerras e mais guerras; surgem fricções e mais fricções.

Ao assistir as nuvens passando sem julgar nem criticar, você expande a própria consciência e pode compreender mais amplamente o jogo que está acontecendo. Grandes oportunidades de crescimento surgem o tempo todo; verdadeiras oportunidades para colocar o amor em movimento, mas isso só é possível se você estiver identificado com o céu.

Parte fundamental dessa jornada, rumo à identificação com o céu é esse alinhamento entre pensamento, palavra e ação. Se faz necessário integridade para que você possa se identificar com aquilo que é permanente dentro de você. É verdade que o inconsciente coletivo está carregado de medo. O medo que estimula o ódio, que gera mais medo; esse é um círculo vicioso.  Mas esse medo e esse ódio tem a qualidade das nuvens: eles sempre passam. É mais difícil você não se identificar com as nuvens quando o trânsito é mais intenso.

Uma das maneiras de se intensificar o trânsito das nuvens é a mídia. Essa é uma questão complexa e delicada. Porque é importante informar, mas ao mesmo tempo, como informar sem estimular o medo e sem estimular o ódio? Esse é um desafio da humanidade nesse atual momento da jornada evolutiva. Um dos pontos que eu considero importante de ser considerado é você não cair na armadilha da ideia de que nós estamos vivendo uma crise.

Às vezes, utilizamos a palavra crise por falta de outra, mas o que estamos vivendo é uma transição. Toda mudança tem no mínimo três fases: um término, uma zona neutra e um reinício. E toda mudança contem em si grandes oportunidades de crescimento. Oportunidade de fazer diferente, oportunidade de rever as escolhas e as decisões.

É verdade que temos feito escolhas e temos tomado decisões que têm gerado muito sofrimento, enquanto sociedade. Estou falando de escolhas e decisões a respeito de como viver em sociedade. Nós estamos constatando que fracassamos. Falhamos em viver juntos em harmonia, em viver juntos sem se machucar e machucar o outro. Falhamos na lição de criar união. Por conta disso está tudo caindo. Glória a Deus! Nós estamos pedindo por essa mudança. No final de todos os dias, fazemos nossas preces invocando o Parivartam. Pedimos por essa mudança de consciência. Pedimos também que ela aconteça com o máximo de doçura possível, mas nem sempre é possível que a mudança aconteça com doçura. Mesmo assim a mudança precisa acontecer. Nós precisamos encontrar um novo jeito de nos organizarmos socialmente, uma nova maneira de lidar com o dinheiro. Uma nova economia. Uma nova maneira de fazer política. Uma nova maneira de educar as nossas crianças.

Existe uma lei nesse plano que determina que todas as construções feitas a partir do ego ou da máscara, em algum momento, se romperão. Não importa o tamanho do império, se não há lastro no coração, em algum momento isso vai cair.

E por mais estruturado que seja aquele império, quando chega o tempo de ele cair, ele é rasgado como se fosse de papel. Eu lhe convido a encarar esse momento como sendo um momento muito propício para o despertar. Momento propício para você aprender a rezar pelo seu irmão. Momento propício para aprender a compartilhar os seus tesouros com o outro. Momento propício para você, definitivamente, se identificar com o céu e não com as nuvens.

Na raiz de todo esse balanço que a Terra está vivendo está a desconexão com a espiritualidade. É a desconexão com o céu. É você identificado com as nuvens. Portanto, o que te segura nesse momento de balanço é a espiritualidade. Porque a espiritualidade é o que possibilita que você se volte para dentro, que você se identifique com o céu, de maneira que possa assistir ao trânsito das nuvens sem se perder.

Eu não estou dizendo que seja fácil, especialmente quando o fluxo de nuvens é tão intenso; mas estou dizendo que além de ser possível, é a única saída. Se você estiver identificado com o céu, você não tem medo de nada, reconhece que o céu não se contamina com as nuvens. É como se dissesse assim: Ainda que eu ande no vale da sombra e da morte, não temerei mal algum porque sei que Tu estás comigo.

A identificação com o ser significa a iluminação da confiança e nesse processo de mudança de foco de identificação; nesse processo onde você está trabalhando para se identificar com o céu ao invés de se identificar com as nuvens, surgem questões como essa:

Pergunta: Querido Guruji, estou percebendo fortemente o meu apego à minha história, a todos os personagens dos meus amigos, família, companheiros e fantasias. Estou com medo de deixar ir. Quando medito ou entro num estado elevado, uma voz sutil, espertinha, diz: “pare, não faça muito isso! Porque tudo o que você ama vai desaparecer!” Então não me deixo ir mais fundo, só o suficiente para manter a minha imagem de buscador espiritual. Como se vai além do medo de desaparecer? Deixar o que a mente sabe, de modo que você possa se comprometer e encarar a verdade e acordar?  

Sri Prem Baba: O ego é muito astuto. E, perceba a sutileza da estratégia que o ego está utilizando para mantê-lo encantado com a sua história: você está buscando uma maneira de ir além do medo de desaparecer. Em outras palavras, você está perguntando: “O que eu faço?”

Essa é a estratégia do ego. Ele faz você ir atrás de uma solução. Ele te tira do momento presente, procurando algo a ser feito. Esse é o seu único problema. Você quer superar o medo. Esse é o único problema: querer se libertar da sua história, querer se desidentificar com as nuvens, querer ser livre. No entanto, você já é livre! Você já é, mas o ego faz você querer ser. Essa é a sutileza da estratégia do ego.

Você está querendo ser algo que você já é. Então, não é uma questão de querer ir além do medo e, sim, de simplesmente estar aqui e agora, observando esse medo passar. Não é uma questão de como desaparecer e, sim, de desaparecer.

Você quer ter fé de que aquilo que ama não desaparecerá. Você quer ter fé na amizade do universo. Você quer ter fé. Esse é o seu problema! Porque você já é fé, mas mesmo assim quer a fé.

Isso faz com que você permaneça correndo, fazendo. Esse é o truque do ego para agitar sua mente. Esse é um momento muito auspicioso da jornada: o desaparecimento desse eu espiritual é inevitável. O desencantamento da sua história é inevitável, mas esse é o grande paradoxo da existência humana: medo e desejo.

A criança quer correr pelo mundo, mas tem medo de perder o colo da mãe. Você quer se iluminar espiritualmente, mas tem medo de perder o seu ego. Tudo o que você mais quer é desaparecer, mas tem medo de perder suas referências e, aí, você fantasia. É como o rio que realiza todos os esforços para poder desaguar no oceano, mas quando chega o momento de ele se dissolver no oceano olha para trás: “e agora? Se eu me lançar no oceano eu desapareço? Vou perder a identidade de ser um rio?”

O rio não sabe que, na verdade, se torna o oceano, pois está preso à crença de que perderá alguma coisa. Está preso à crença de que perderá a identidade de ser um rio e não percebe que na verdade se transformará em oceano. Não há o que fazer. Há só que se observar. O movimento é natural.

O oceano está atraindo o rio. Por mais que o rio tente se segurar, por mais que ele faça muita força para impedir o encontro com o oceano, chega o momento em que não consegue segurar a água. Simplesmente porque não é possível segurar a mão fechada eternamente.

Experimente fazer esse exercício: feche a mão e aperte e aperte, mais e mais e segure. Segure e segure. Agora solte. Não é mais fácil? É mais fácil! Você está fazendo mais difícil. O que você está fazendo é muito difícil. É muito difícil.

Você está represando um rio na marra, com suas mãos. Você está tentando manter o amor trancado no cofre. É inevitável, em algum momento você vai dançar e celebrar o milagre da vida, independentemente do que esteja acontecendo ao seu redor. Claro que você não estará feliz com o sofrimento do outro, mas o que está acontecendo lá fora não tem poder para afetar a paz do seu coração nem da sua mente.

Nesse atual ciclo do tempo o trânsito de nuvens escuras é intenso. Ok, no problem. Já houve momentos difíceis aqui. Olhe para trás. Olhe os livros de história. Já houve momentos bem desafiadores. Isso vai continuar. Nós estamos tentando criar um microclima aqui, tentando criar uma bolha, uma idade de ouro dentro desse Kali Yuga. Tampouco devemos nos preocupar se seremos bem-sucedidos ou não; devemos apenas seguir colocando o amor em movimento. Aí, você dá o seu melhor para não permitir que o que está acontecendo lá fora tenha poder sobre você. Quando você estiver identificado com o céu – que é símbolo do Eu Maior – você assiste passivamente o trânsito das nuvens. Traduzindo para o dia-a-dia da vida em sociedade: você se move no mundo, mas não se perde nele. Você vai para o mundo para distribuir seus dons e talentos, mas não se perde nele.

Chega um momento em que você se torna imune à miséria, imune ao sofrimento, imune à ignorância. Veneno nenhum te contamina. Aquilo que é sagrado não se contamina. O divino em você não se contamina. Aquilo que é permanente e indivisível em você não se contamina com o que é impermanente. É como se você andasse no fogo sem se queimar.

Embora a resposta que você busca esteja no momento presente, o portal para a autorrealização é o agora. É importante que você tenha clareza da meta; e a meta é essa: estar no fogo sem se queimar. Esse é o significado mais profundo da Chandra – a lua nova na cabeça de Shiva, equanimidade mental. É importante que você coloque isso nas coordenadas do seu GPS: equanimidade mental.

Não importa o que está acontecendo lá fora, aqui dentro você é sempre o mesmo. Alguns dias serão ensolarados, outros serão chuvosos. Alguns dias as pessoas estarão se matando lá fora e alguns dias elas estarão se abraçando. Equanimidade significa não se incomodar nem com o sofrimento, nem com a alegria. Você é o mesmo. Assim é o céu, que só assiste o trânsito das nuvens. É isso que você está aprendendo nessa escola. Esse é o curso.

Ano passado, quem deu aula foi o professor Sol. Este ano Saturno é o professor. O curso é de equanimidade mental. Ok. Vamos cantar um pouco:

“O sol vai, a lua vem,

A água corre sem parar.

O vento sopra, a chuva molha

Para de novo o Sol secar.

Indo, indo, indo além.

Além do além, Body Swaha.

O Sol vai, Saturno vem.

Preste atenção, não vai parar.

As nuvens formam e se transformam

E o céu não sai do seu lugar.

O mundo gira, a vida flui.

Impermanência a ensinar

O que nos resta é aceitar

Todos os presentes que a vida dá.

Dizendo sim, graças a Deus,

No coração poder chegar

Na noite escura estrelas brilham.

No azul celeste estou a voar.

Vamos todos meus irmãos

Nos afinar com Shiva:

Ele é o Sol, ele é a luz,

É o farol que nos conduz.

A amizade, a união

Se apresentam no salão.

Salão dourado do Criador

Seu coração é uma flor,

É a verdade a reinar.

Shiva, luz de Sachcha,

A alegria no coração

Se manifesta em compaixão.

Somos unidos, somos iguais

Em divindades celestiais.

Esse é o sonho do Criador,

Felicidade e puro amor.”

Abençoado seja cada um de vocês. Que possamos testemunhar a impermanência sem nos identificar. Até um próximo encontro. NAMASTE