Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

A Coragem de Criar um Novo Padrão de Comportamento
Como transformar os pactos de vingança e padrões de comportamento. Como ajudar filhos adolescentes e adultos. Mudança de crenças. A máscara do autêntico. A importância de cuidar dos reflexos desses padrões repetitivos no corpo físico. A cura do vício dos padrões destrutivos se da abrindo o coração, abrindo-se para a coragem de criar um comportamento completamente novo e abrindo mão do vício. Purificação é a transformação do eu inferior.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
21/2/2018

Pergunta: Querido Babaji, acredito que estou começando a entender o que você diz sobre estar no lugar onde nos colocamos. Estou podendo identificar alguns dos meus pactos de vingança e como repetidamente me coloco em situações difíceis. Vejo a dimensão do estrago que provoco na minha vida e na vida de outros. Mas, e agora? Como transformar isso? Como ir além? 

Sri Prem Baba: Essa é uma boa pergunta. Agora você precisa ter a coragem para abrir a janela para a luz entrar nesse quarto escuro ou melhor, permitir que a luz saia de dentro para fora. Para isso, você vai precisar ter a coragem de fazer diferente, mesmo que esse diferente ainda seja errado. Procure não cair na armadilha de ter que acertar, de ter que saber qual é o melhor caminho. 

Talvez por um tempo você ainda encontre apenas uma outra trilha do eu inferior. Mas o fato de você mudar um padrão condicionado, o fato de você ter a disposição de fazer diferente, é como se você estivesse forçando a abertura da janela. Porque, como você já está podendo identificar, os padrões destrutivos são repetitivos. Eles se valem do poder da adição, do vício. Existe uma contraparte física, neurológica, que dá suporte para essa adição. Existem redes neurais que te induzem à repetição. Por isso é tão difícil mudar um padrão condicionado. Só é possível essa mudança se houver consciência suficiente, que possibilite essa mudança de rota. 

Tome como exemplo um determinado comportamento. Vamos supor que o seu pacto de vingança ou o padrão destrutivo, se manifeste com o hábito de sempre ter a última palavra. Numa discussão, num relacionamento, você sempre tem que sair ganhando, você sempre tem que mostrar que sabe mais para poder inferiorizar o outro, para você se sentir mais forte, porque quando o outro se sente inferior você tira energia dele e, então, você se sente mais forte. 

Se você já conseguiu perceber essa mecânica, já conseguiu perceber como funciona o eu inferior, o próximo passo é ter coragem para fazer diferente. Quando vier o impulso de ter a última palavra, você morde a língua, mas não fala. Vira as costas, sai. Num primeiro momento isso talvez seja, ainda, desagradável, porque não estamos falando de uma transcendência. Estamos falando de um esforço para redirecionar os vetores dessa energia, um esforço para abrir uma nova rede neural e isso leva um tempo. Para cada um, funciona de um jeito. Claro que isso vai requerer muita atenção: com a mais sutil falta de cuidado, você repete o padrão. Então, essa fase requer um estado de alerta em relação a esse comportamento: quando ele tenta se manifestar através de você, você o interrompe e faz algo diferente, novo. Mesmo que não seja ainda uma expressão do eu maior, que você ainda não esteja se rendendo à humildade de ouvir o outro. Você está numa batalha interna. E assim começa a abrir caminhos para luz. É só quando você pode colocar um movimento completamente novo dentro daquela repetição negativa que se torna possível romper o padrão. Mas é verdade que a transformação já começou. 

Por que eu posso afirmar isso? Primeiro, porque você está identificando a causa do sofrimento. Você está identificando o padrão destrutivo e está se responsabilizando por ele. Conseguiu vencer a força de atração do jogo de acusações. Conseguiu superar esse tão intenso poder gravitacional desse jogo: “Ok, então, não é o outro. Eu estou me colocando neste lugar, porque tenho raiva dentro de mim, porque estou revoltado com a vida, porque tenho ressentimentos e por conta disso é que estou me colocando aqui. Por causa disso estou apertando o calo do meu irmão, da pessoa que eu também amo. E depois me encho de culpa”. 

Ótimo. Você já conseguiu perceber que é com você o negócio. É por isso que eu afirmo que a transformação já começou. O primeiro passo é a identificação, o segundo é se responsabilizar. O terceiro é ver a dimensão do estrago, fazer as relações de causa e efeito, o quanto você está projetando do seu passado nas pessoas aqui e agora. E devagarinho você vai compreendendo que é pura projeção, você está tentando consertar o passado, na medida em que você exige que o outro te dê o que ele não tem para te dar. Ótimo até aqui. Até aqui você já está perto da janela, podendo mexer na maçaneta dela para abri-la. Sem esses passos você não está perto dela: está distraindo, acusando o outro, procurando culpados para sua infelicidade, andando em círculos no vale da sombra e da morte, nos vales escuros da alma. Mas, na medida em que você tomou consciência da situação, do padrão, tornou-se autorresponsável, viu o estrago, fez as relações de causa e efeito e não caiu nos jogos de acusação – porque você sabe que é uma projeção – você já andou mais da metade do caminho; já está próximo de abrir a janela. Agora não é uma questão de entender a mecânica da escuridão, como funciona o seu eu inferior: você já entendeu e agora está pronto para entender que essa escuridão é a ausência da luz. Agora vai ter que ter a coragem de abrir o coração, abrir mão do vício. 

Nesse exemplo que acabei de dar – que é uma manifestação da vaidade, que é um mecanismo de defesa para você se sentir mais, ter a última palavra – a língua saliva para poder ter a última palavra. Tem muito prazer investido nessa repetição e você tem que recusar isso e colocar um comportamento novo no lugar. Fazer diferente. Saia, tome um banho, tome uma água fria: “Ok, vou fazer diferente”. Até que você possa relaxar nesse diferente. Mesmo que esse diferente não seja ainda o melhor caminho. 

Você diz assim:

Pergunta: No esforço de tirar as máscaras, é possível criar a máscara do “sem máscara”? 

Sri Prem Baba: Sim, criar a máscara do autêntico. Você sai falando tudo o que pensa para o outro. Se torna o cavaleiro da verdade, sai por aí falando tudo o que pensa. Mas, você está criando possibilidades de a energia encontrar uma outra direção; é válido: está tentando outro caminho. E, até que possa estar pleno no seu coração, talvez erre muitas vezes. E você consegue então, nesse exemplo, segurar a língua e não ter a última palavra e sai daquela situação, encontra uma pessoa e fala mal dela, fala que ela está errada. Mas você está provocando uma fricção naquele condicionamento que estava tão enraizado. É assim que você vai abrindo caminhos para luz. Até que em dado momento você consegue realmente relaxar no novo. Começa a perceber que é possível ter prazer numa condição diferente da vingança. É possível ter prazer numa condição positiva. Esse é o significado de purificação que muitas vezes eu utilizo: purificação é a transformação do eu inferior. 

Vamos para mais um exemplo. 

Pergunta: Querido Baba, hoje é o meu último satsang. Muitos aprendizados e graças recebidas. Entendi e já comecei a abençoar meus filhos, para que eles sejam livres para serem eles, plenamente. Porém, eles já são jovens. Não pude protegê-los das minhas transferências e expectativas quando pequenos. E agora? Há algo além das bênçãos, orações e uma atitude menos controladora que eu possa fazer? Como ajudar filhos adolescentes e adultos?

Sri Prem Baba: Você pode fazer muito. Vamos fazer um paralelo com o que eu acabei de explicar. Você identificou o seu medo, o seu controle, o abuso do poder, a intimidação, a arrogância como muitas vezes você tratava os seus filhos e você está vendo que não é mais isso. Isso está se transformando, está indo embora. As marcas neles estão lá. E elas com certeza irão atuar. Especialmente na adolescência. Ou mais para frente, na forma de relações difíceis. Mas, mesmo na adolescência ou na idade adulta, você vai ter chance de fazer algo se puder não cair na tentação de repetir o padrão. Porque esse padrão pode novamente tentar atuar. É preciso ter essa firmeza, esse estado de alerta, essa atenção, para não repetir o padrão. Especialmente quando tiver a chance de dialogar com eles. Porque o que pode ajudar são boas conversas; é você se aproximar deles no coração, tornar-se amiga – ou amigo – deles. E não vai ser tão fácil se tornar amiga ou amigo deles. Porque, se o padrão já foi instalado, eles vão querer se vingar de você. E você não vai poder explicar isso para eles. Vai ter que ter calma, paciência para conseguir encontrar uma brecha para se aproximar. Vai ter que receber cargas de raiva, o que não é fácil. Às vezes você também vai ficar com raiva, vai brigar. Aí você respira e “Ok, vamos tentar de novo”. 

E assim vamos indo, até que possa haver uma conexão no plano do coração. Até que possa haver confiança novamente, especialmente deles em relação a você. Que eles possam confiar de novo que você não vai ofuscar a luz deles. Esse amor vai ser testado. Essa amizade vai ser testada inúmeras vezes. E, ao mesmo tempo, é uma oportunidade para você crescer nesse amor e nessa amizade. Já que esse karma foi criado... Então, perceba que esse processo de abrir as janelas do coração pode se manifestar de diferentes maneiras nas diferentes áreas da vida. Onde quer que você perceba a atuação de um não, onde perceber o coração fechado, sentir-se sem sorte, com dificuldade, caindo repetidamente no mesmo buraco, é porque tem ali um pacto de vingança, e você precisa fazer esse processo de transformação: identificar, se responsabilizar, compreender a dimensão do estrago, fazer as relações de causa e efeito, ver as projeções que você está fazendo. Na medida em que você vai tratando dessas projeções, o que inclui liberar os sentimentos guardados e fazer as pazes com seu passado, você vai estar atento, alerta para encontrar maneiras criativas e diferentes para atuar. Criativas e novas. Porque precisa ser um comportamento novo, diferente, para poder romper com o círculo vicioso e criar uma nova rede neural, senão, irá repetir o padrão. 

Você precisa começar a pensar diferente. Quando você identifica a expressão da crença, qual é a frase central que ela repete, você precisa mudar. Vamos supor que a crença seja: “Eu preciso inferiorizar o outro para me sentir forte”. 

Se você consegue compreender que é esse o jogo que o seu eu inferior está fazendo, porque ele acredita que, para ser forte, ele tem que inferiorizar o outro, vai ter que mudar essa sentença. Então, por exemplo: “Eu sou autossuficiente, confio em mim mesmo e tenho o que eu preciso”. Você vai quebrando essa crença que faz com que repita esse jogo de destruição com o outro. 

E como lidar com os reflexos disso, já enraizados no seu corpo físico na forma de doenças? Não me refiro só às redes neurais que determinam o comportamento. Estou falando de somatização. Porque tenho aqui um exemplo que sinto que precisa um pouco de clareza. 

Pergunta: Babaji, sinto muitas dores no corpo, principalmente nas costas, há quase um ano. Minha vida está em paz e eu sou uma pessoa feliz. Não consigo identificar de onde essas dores podem estar vindo. Pode me ajudar a compreender e aliviar esse karma

Sri Prem Baba: Muitas vezes você até já pode dissolver esse padrão no nível mental, emocional, e às vezes já pode até começar a restaurar o corpo energético, mas o dano no físico ainda não foi possível restaurar. Às vezes você muda externamente, mas o reflexo no externo leva muito tempo. Isso serve para qualquer outra área, qualquer outra situação. 

Vamos supor que você esteja tratando uma dificuldade financeira. Você já conseguiu resolver dentro, mas fora ainda leva um tempo para ajustar. Porque às vezes o karma é profundo, você ficou muito tempo se machucando e nesse caso você vai precisar também de ações materiais concretas para reparar esse dano. Nesse caso, você precisa visitar um médico especialista em coluna, precisa ver o que está acontecendo, qual é a dimensão dessa somatização, fazer exames adequados. Porque às vezes a somatização está se realizado num grau e se fica esperando que se resolva só no sutil, você está se machucando mais ainda. Porque a energia, quando ela encontra um caminho, vai se desenvolvendo, vai se ampliando. Por mais que você esteja em paz, feliz dentro. Acionou-se um movimento da energia no seu corpo, que está aí causando um problema e tem que ser tratado da forma adequada, por alguém que compreenda do corpo o suficiente para poder interferir. 

Muitas curas, mesmo do corpo físico, podem acontecer pela Graça. Já vi várias curas acontecerem através da Graça. Mas algumas não. Algumas vão precisar de uma agulha, outros vão precisar de remédios, outros vão precisar de cirurgias físicas. Não estou dizendo que seja o seu caso. Mas estou dizendo que isso funciona assim. É importante você estar aberto para todas as possibilidades, que você se mova em direção à janela, em direção a abri-la, deixar a luz passar. Nesse caso estou falando da luz da cura que pode chegar de diferentes maneiras, porque Deus se manifesta de diferentes maneiras. A cura é sempre espiritual. Sempre. Mesmo quando vem através de um médico, de uma medicina. Mas a cura é Deus quem da, para quem tiver merecimento. Merecimento significa estar pronto, compreendendo o que precisa ser compreendido; que a saúde é uma manifestação divina. Prosperidade, saúde, amor, verdade, justiça, a vida em si mesma, o bem em si mesmo são manifestações de Deus em nós. 

Abençoado seja cada um de vocês. Que possamos permitir que o coração se abra. Até um próximo encontro.

NAMASTE