Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

A Ciência do Ser – Observar a Impermanência
Deus existe? Crenças sobre Deus e o Amor. O amor é a fragrância do Ser. Desencantamento com a mente. O mistério da vida só pode ser experimentado pelo coração. O que chamamos problema é uma interpretação dos fatos da vida. Redirecionamento do poder da vontade. O que é impermanente sempre passa. A essência da ciência do Ser é você se identificar com o céu. Não é possível o acesso ao Ser enquanto se estiver encantado com a falsa história. A essência do yoga. As leis do plano material precisam ser cumpridas. Lei do mínimo esforço.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
18/2/2017

Sri Prem Baba: Eu os convido a fechar os olhos por um instante. Respire suave a profundamente pelas narinas. A cada expiração, permita-se esvaziar de toda a expectativa, de todo desejo. Permita-se relaxar no momento presente. Coloque o foco da sua atenção na escuta do silêncio. O silêncio, que às vezes é rompido por diferentes sons. Mas, observe que os diferentes sons que rompem o silêncio são sempre passageiros, são impermanentes. O silêncio permanece. Escute o silêncio e não se oponha aos sons que rompem o silêncio. Apenas observe aquilo que é passageiro, aquilo que é impermanente, sem julgar ou criticar, simplesmente assista ao trânsito, mas permita-se escutar o silêncio até que não haja mais diferença entre o silêncio e você. Você é o silêncio que testemunha a impermanência. Quando quiser, abra os olhos, mas mantenha a atenção e a receptividade. 

Vamos abrir o livro da vida e seguir com o estudo fino que estamos fazendo a respeito da ciência do Ser. 

Pergunta: O que é Deus? Deus existe? Como experimenta-lo? 

Sri Prem Baba: Para a grande maioria dos seres humanos em evolução neste planeta, quase que na sua totalidade, Deus é apenas uma palavra e uma palavra desprovida de significado. Em alguns casos, existe algum significado, um significado que tem fundamento no medo. 

Para a grande maioria das pessoas, Deus é uma crença que nasceu do medo e é uma personagem da ficção, criada para que ele se sinta protegido, protegido do mistério, protegido da incerteza. As crenças sobre Deus amortecem o núcleo de uma das mais profundas feridas da alma humana, que é de não saber quem é, não saber a razão de estar aqui, sentir-se sozinho e perdido. Esse Deus não existe. 

Em algum momento, você vai precisar se desencantar da sua história. Em algum momento, você vai precisar se desencantar dessa ficção que você criou sobre sua biografia, que faz você acreditar que é um homem ou uma mulher, que você é uma vítima, herói ou vilão. Vai precisar se libertar das crenças que você tem sobre Deus. Geralmente, essas crenças se baseiam em projeções dos pais, que são elementos cruciais na formação da sua história, a história com a qual você está encantado. 

Quem é você? Quem é Deus para você? Como experimentar algo que está além da mente, através da mente? O mistério da vida só pode ser desvendado através do coração. 

Posso tentar te explicar o que é a respiração, mas você só pode experimentar a respiração quando você respira. Eu posso tentar te explicar como é o sabor de uma maça, mas você só vai conhecer o sabor de uma maçã quando você a saborear. E, levando em consideração a esperteza da mente, o quanto ela se especializou em dominar a experiência, como ela tem te enganado, eu evito dar alimento para a mente. 

Para evitar mais autoengano e para deixar de alimentar esse encantamento com a história criada pela sua mente é que eu digo que, para mim, Deus é o amor. E como experimentar Deus? Amando. Você experimenta Deus quando você se torna o amor. O amor é uma expressão do mistério, mas se você é capaz de amar, as portas do mistério se abrem porque quem ama, em você, é a verdade. O amor é uma fragrância do Ser que às vezes chamamos de Deus. Esse Ser que é a presença. 

Você diz assim: 

Pergunta: Muitas vezes penso em lhe fazer alguma pergunta, mas quando chego em sua presença as perguntas desaparecem. Assim, posso experienciar que no momento presente não há perguntas. Agradeço por esse valioso presente, que é poder silenciar. Quando tudo está balançando, eu posso me sentar, fechar os olhos e só estar presente. 

Sri Prem Baba: É isso. O que está balançando é aquilo que chamamos de situação de vida. Aquilo que chamamos de problema é uma interpretação a respeito dos fatos da vida. Se você fecha os olhos e os problemas desaparecem, eles não têm uma existência real, não criações da mente. Pouco a pouco vamos desvendando o mistério, que é poder ser o senhor da sua mente; o que inclui aprender gerenciar emoções, que inclui saber discernir o que é real e o que é irreal. 

Certa vez, eu assisti a uma cena: uma devota do Maharaj chegou para ele sofrendo muito, contando que tinha uma pessoa que estava com raiva dela, que estava com ciúme. O Maharaj estava meio sonolento e abriu os olhos e falou: “Menina, isso é só um sonho”. 

Isso é só um sonho. Esse sonho é um desdobramento da sua história, com a qual você está encantado. O seu trabalho é se desencantar. Em outras palavras, o seu trabalho é acordar. 

Quem é em você que está sentindo ciúme? Quem é em você que está se sentindo agredido porque a amiga não fez de acordo com o que você esperava dela? Quem é em você que acredita que existe um outro e que está contra você? Quem é o outro? Será que quando você abre os olhos, o outro continua lá? Ou será que ele está lá só quando você está com os olhos fechados e adormecido? Quando você silencia, as perguntas desaparecem. Então, será que essas perguntas existem? 

Temos nos dedicado com bastante determinação ao redirecionamento dos vetores da vontade; temos nos dedicado à tapasya neste ciclo, que é considerado o Shivaratri, nestes dias que antecedem a lua de Shiva. Temos trabalhado com o objetivo de desenvolver concentração, de cortar os nós de vícios que agem como cola nessa identificação com a mente condicionada. 

O uso indevido da vontade age como o pó mágico que sustenta o encantamento com a história. Por isso estamos trabalhando para redirecionar o poder da vontade. Isso você pode fazer: escolher uma austeridade inteligente e se dedicar a realiza-la. Assim, você vai fortalecendo a qualidade do testemunhar. Aquele que testemunha é quem escolhe fazer e realizar a tapasya, é aquele que pode observar aqueles outros eus que tentam te tirar da tapasya. É esse observador que pode identificar as vozes do falso eu e não alimenta-las. É esse observador que pode se tornar um com o silêncio e somente assistir àquilo que é impermanente passar; assistir às atuações do eu inferior, assistir aos convites da máscara. 

Assim como estávamos aqui, há pouco, prestando atenção no silêncio a ponto de nos tornarmos o silêncio e só assistirmos aos sons passageiros rompendo o silêncio. Se você não julga e não critica, ele passa, porque aquilo que é impermanente é como as nuvens, sempre passam. 

Existem basicamente dois fenômenos na existência, que se assemelham muito ao céu e às nuvens: o céu é permanente, ele não muda, e as nuvens estão sempre se modificando. A essência da ciência do Ser é você se identificar com o céu. É você se tornar o céu, o que significa você, eu consciente, se dissolver, se identificar com o céu que te habita. Aí você pode assistir ao trânsito das nuvens na forma dos pensamentos, na forma das perguntas, na forma das dúvidas. Tudo aquilo que é impermanente nasce da sua história.  

Tem sempre, dentro de você, um sentimento de que talvez a sua história não seja verdadeira. Talvez a história que te contaram sobre você não seja verdade. Será que você está 100% convicto de que você é quem acha que é? Você é o seu nome? Filho de fulano de tal? Você é um homem? Uma mulher? Quem é você? 

Por mais identificado que você esteja com a sua história, tem dentro de você uma dúvida e essa dúvida é positiva. Ela nasce do seu eu consciente, que quer saber para onde ele vai: “Qual é a direção? Com quem eu me identifico, com o céu ou com as nuvens?”

Quando você se desidentifica dessa história, que inclui as crenças que você tem sobre Deus, você começa a ter o gostinho do que é Deus. Quando você se liberta das crenças sobre o amor, você pode começar a saborear o amor. Alguns estão neste momento, de compreender que o que se precisa é somente silenciar e testemunhar. Só. Nada mais. Outros, já precisam trabalhar em outro quadrante da consciência, precisam trabalhar firmemente para remover as capas de medo e de ódio que encobrem o Ser. 

Portanto, para algumas pessoas, a resposta para a pergunta: “Como experimentar Deus?” é silenciar. Para outros, a resposta é desaprender a odiar, desaprender a sentir medo, chegar a um acordo com o passado para poder se libertar dele. 

Talvez aquilo de mais valioso para aquele que está trilhando o caminho da autorrealização é saber que ele realmente precisa limpar o coração de mágoas e ressentimentos; precisa se libertar dos sentimentos que estão trancados. Precisa conseguir expressar os sentimentos que estão guardados, porque eles são como algemas, que te prendem no seu falso eu, sustentam o encantamento com a sua falsa história. 

Existe uma história verdadeira; afinal de contas, esse Ser chegou aqui vindo de algum lugar. Veio aqui fazer alguma coisa – caso contrário, estaria aqui para quê? – e vai sair daqui seguindo para outro lugar também, independentemente de todos os desvios gerados pelo encantamento com a falsa história. 

Existe uma história verdadeira, que é a história desse Ser que tem a qualidade do céu. Esse Ser que tem a qualidade do céu também tem uma história, mas que você não acessa enquanto estiver encantado com a falsa história. Assim como você não tem acesso ao Deus real enquanto estiver encantado com o falso Deus. 

Em resumo, você não tem acesso ao Ser enquanto estiver encantado com a mente. Você começa a se desencantar da mente observando-a, assim como o céu observa as nuvens, assim como o silêncio pode assistir ao som passando por ele. Da mesma maneira, você pode assistir ao trânsito das emoções, pode assistir ao trânsito dos pensamentos, sem precisar segui-los. Essa é a essência do Yoga, que hoje eu estou chamando de ciência do Ser e que é o caminho de volta para casa. 

Aqui e agora não existem problemas, não existem perguntas, não existe barulho e, portanto, não existe sofrimento. O sofrimento é produto da identificação com a impermanência, porque você quer segurar aquilo que é impermanente. Você se apega naquilo que é impermanente e o resultado é o sofrimento. Você não pode segurar as nuvens, elas sempre passam. 

Podemos até mesmo definir o estado de autorrealização como a superação do sofrimento. Essa superação se dá quando você pode observar aquilo que é impermanente sem querer segurar. Essa é a essência do conhecimento; essa é a essência da prática. 

Portanto, vamos seguir com a nossa tapasya, com nosso processo de alinhamento do Ser, mas também observando que o plano material tem suas leis, tem suas regras que precisam ser obedecidas. 

Estou sabendo de uma pessoa que sofreu um acidente de carro vindo de Delhi para cá. É o segundo em pouco tempo. Quero pedir encarecidamente que não viagem de carro à noite de Delhi para cá, porque não há proteção espiritual que dê conta de tanta neblina na estrada e obviamente que tem também, às vezes, a imprudência dos motoristas. Peço ao time de comunicação preparar um comunicado pedindo que não viagem de carro à noite de Delhi para cá. Peço também para que as pessoas leiam o manual de instruções, que foi feito com muito carinho, explicando todas as delicadezas da viagem. 

As pessoas que passaram pelo acidente foram protegidas e tiveram ferimentos leves, mas é sempre um sofrimento que poderia ser evitado. 

Eu estou realmente comprometido em remover o sofrimento da equação. Estou dedicando esse ano ao alinhamento com o propósito, que também é um alinhamento com a lei do mínimo esforço. Com pouco esforço, você faz aquilo que tem que ser feito, sem grandes sacrifícios. É isso que eu quero para você. Eu rezo para que você queira isso também. 

Alguns podem pensar assim: “será que se eu deixar de dar atenção para o pensamento, ele vai deixar de me atormentar?” Experimente. 

Nessa altura da jornada, acredito que alguns já estejam compreendendo que o que te mantém encantado com a sua falsa história são pendências – pendências criadas dentro dessa história. De um jeito ou de outro, você tem que conseguir virar a página. Você pode experimentar dizer: “já foi, estou aqui”. Mas, se por ventura o karma não lhe permite dizer simplesmente: “já foi”, então vá tratar de resolver essa pendência. Pode ser bem simples. Na verdade, o processo como um todo é bem simples, a mente é que transforma a coisa em algo bem complexo. Ao mesmo tempo, a mente não é uma vilã, você só precisa aprender a utiliza-la. 

Abençoado seja cada um de vocês. Que o amor e a sabedoria iluminem os passos da sua jornada. Até um próximo encontro.

NAMASTE