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Imagine a seguinte situação: em uma tarde qualquer, você caminha pela rua e vê uma cena que chama a sua atenção: uma pessoa sentada na calçada, claramente abatida, com lágrimas nos olhos. O impulso inicial de muitos seria sentar ao lado dela e, na tentativa de demonstrar apoio, tentar sentir sua dor, absorver seu sofrimento para que ela não se sinta tão sozinha em sua angústia. Essa é uma reação comum, porém, dependendo da forma que você fizer isso, pode confundir empatia com se misturar com a dor do outro. Mas será que sofrer junto é a única ou a melhor maneira de oferecer suporte?

EMPATIA NÃO É SOFRER JUNTO

April 18, 2024

Imagine a seguinte situação: em uma tarde qualquer, você caminha pela rua e vê uma cena que chama a sua atenção: uma pessoa sentada na calçada, claramente abatida, com lágrimas nos olhos. O impulso inicial de muitos seria sentar ao lado dela e, na tentativa de demonstrar apoio, tentar sentir sua dor, absorver seu sofrimento para que ela não se sinta tão sozinha em sua angústia. Essa é uma reação comum, porém, dependendo da forma que você fizer isso, pode confundir empatia com se misturar com a dor do outro. Mas será que sofrer junto é a única ou a melhor maneira de oferecer suporte?

Há uma crença disseminada de que, se não compartilhamos da dor do outro, especialmente quando ele está sofrendo, seremos insensíveis ou desprovidos de empatia. No entanto, é fundamental distinguir entre sentir empatia e sofrer junto. A empatia madura é um componente essencial para realmente ajudarmos alguém em sofrimento, pois permite que compreendamos seus sentimentos sem nos perdermos neles.

Empatia é a capacidade de compreender e sentir o outro. É colocar-se no lugar do outro, tentando ver o mundo através de seus olhos e sentir o que ele sente, sem necessariamente ter experimentado a mesma situação. Empatizar é ser tocado pela adversidade de outra pessoa, desejando auxiliá-la a superar sua condição. No entanto, para que esse auxílio seja efetivo, é necessário manter uma certa distância emocional, o que não equivale a ser frio, mas sim a preservar a própria estabilidade emocional enquanto se oferece apoio. Pense no exemplo de um médico tratando um paciente gravemente ferido: para oferecer o melhor cuidado, o médico não pode se deixar levar pela dor do paciente, mas deve permanecer compreensivo e profissionalmente distante. 

Essa perspectiva é aplicável a todas as nossas relações, seja com amigos, familiares ou parceiros afetivo-sexuais. Ao vivermos em um mundo onde o sofrimento é uma constante para muitos, nossa capacidade de oferecer um porto seguro sem nos perdermos na tempestade alheia é mais valiosa do que nunca. Digo isso, pois vejo muitas pessoas em desespero com o seu sofrimento e muitos outros que não sabem como lidar com o sofrimento alheio. 

A dor precisa de acolhimento e de cuidado, não podemos ter medo dela, mas é importante ter respeito e saber que o sofrimento tem uma força gravitacional. Ninguém quer sofrer sozinho, por isso compreenda que ao ajudar alguém que está com a consciência rebaixada por causa do seu sofrimento, o caminho não é rebaixar a sua consciência. O caminho é ter empatia com a dor alheia, sem tomar aquelas dores como se fossem suas, para que a sua consciência esteja elevada ao ponto de poder verdadeiramente auxiliar. 

Terapeutas, em particular, enfrentam esse desafio diariamente. Para cuidar da saúde emocional e mental de seus pacientes, não podem se fundir com as dores apresentadas em consulta. Quando há uma identificação excessiva, corre-se o risco de projetar as próprias questões e sofrimentos no outro, comprometendo a objetividade e eficácia da ajuda oferecida.

Por isso, convido a todos a refletirem sobre suas interações diárias: estamos realmente praticando a empatia ou estamos nos perdendo no sofrimento alheio? Cultivar uma empatia madura e consciente é um passo fundamental para construirmos um mundo onde o apoio mútuo seja genuíno, profundo e, sobretudo, curativo. Sejamos faróis de compreensão e ajuda, sem nos afogarmos nas ondas do sofrimento que buscamos aliviar.

Sri Prem Baba