Satsangs

Prem Baba transmite seus ensinamentos ao redor do mundo, por meio de encontros presenciais e virtuais.

Nessa sessão você encontrará alguns de seus “satsangs”(palavra Hindi que pode ser interpretada como palestra) descritos.

Você pode filtrar por palavras chave ou temas e acessar o conteúdo transcrito.

Transição da Intencionalidade Negativa para a Intencionalidade Positiva
Por que foi retirada o verso dukhantak khel ka ant karo do mantra Prabhu ap jago? Não dar alimento para o sofrimento. Abc da espiritualidade é uma fase do processo. A presença dissolve o sofrimento. O eu idealizado é um tirano cruel. Aceitar as próprias limitações é essencial para superá-las. A mediunidade faz parte do currículo desta escola espiritual. A beleza é um florescimento da presença.
Sachcha Dham Ashram, Rishikesh - Índia
17/2/2017

Pergunta: Prem Baba, por que não se canta mais a parte do mantra que diz: Dukhantak khel kaa ant karo

Sri Prem Baba: Não se canta mais, devido a um comando do Maharaj. Para você compreender melhor, vou contextualizar. Quando Guirinari Baba Deixou o corpo, se não me falha a memória, em 1944, Kulananda Ji, que hoje é conhecido como Sachcha Baba, que é o guru do meu guru, sentiu muito intensamente essa saída. Mesmo estando ele acordado, a saída do guru dele o impactou muito. Eu ouvi dizer que ele ficou cerca de dois anos ao redor do samadhi do guru dele, sentindo a falta da presença amorosa de Girinari Baba, como que dizendo: “para onde foi essa energia de amor do meu Guruji?” Até que Guirinari Baba apareceu para ele e mostrou que não existia diferença entre eles, que Gurinari estava dentro de Kulananda ji. Aí ele se sentiu inspirado a fazer uma longa peregrinação e, ao se encontrar em um lugar sagrado, dedicado a Jagannath, em Puri, ele teve uma experiência mística muito profunda. Ele foi tomado por um fluxo de compaixão ao ver e fazer empatia com o sofrimento das pessoas daquela cidade. As lágrimas escorriam dos seus olhos e ele começou a cantar pelo despertar daquelas pessoas. 

Do coração dele emergiu o mantra Prabhu Aap Jago, Paramatma Jago, Mere Sarve Jago, Sarvatra Jago. E foi nesse momento que ele compreendeu o propósito maior da sua encarnação, que era realizar esse mantra. 

Às vezes, um santo encarga somente para realizar um mantra. E esse mantra começou a reverberar, começou a se manifestar. O significado deste mantra é: “Deus, desperte. Deus, desperte em mim. Deus, desperte em todos e em todos os lugares”. Ele reconheceu que o sofrimento que estava se manifestando naquelas pessoas era porque o Ser Supremo estava adormecido dentro daquelas pessoas, não havia presença. A oração que surgiu do coração dele era para que o Ser Supremo pudesse acordar em todos, que a consciência divina pudesse despertar em todos. E esse mantra começou a ser cantado pelas pessoas que estavam junto com ele. 

Quando ele chegou a Allahabad e se estabeleceu lá, esse mantra começou a ser cantado continuamente, como uma vigília que se propagava ao redor do planeta, com o objetivo de convocar todos aqueles que estavam, de alguma maneira, podendo despertar. Aqueles que estavam podendo ouvir o chamado do Santo, que estavam suficientemente maduros para ouvir o chamado. Era como se estivesse dizendo: “Acorde! Levante! Vá até os homens sábios e santos e receba o conhecimento que te liberta”. 

E, então, estabeleceu-se um compromisso de cantar esse mantra 24 horas por dia, durante nove anos. Um discípulo sentiu de acrescentar duas linhas a este mantra e, com o consentimento do guru, foram acrescentadas duas linhas: “Dukhantak Khel Ka Ant Karo” – que significa: “que haja o fim do jogo do sofrimento” – e Sukanta Ka Khel Prakash Karo – que significa: “ilumine o jogo da alegria”. 

E esse mantra tornou-se uma oração viva e começou a se propagar para todo o planeta, através dos ahrams da linhagem Sachcha. Mas, nos últimos tempos do Maharaj no corpo, talvez no penúltimo ano dele, se não me falha a memória, em 2010, ele deu o comando de não se cantar mais no mandir a frase: Dukhantak Khel Ka Ant Karo, que significa: “que haja fim do jogo do sofrimento” e cantar somente “Sukhanta Ka Khek Prakash Karo”, que significa: “ilumine o jogo da alegria”. 

Eu perguntei para ele por quê e ele respondeu: “para não dar mais nenhuma atenção para o sofrimento”. Isso é muito profundo. Muito profundo. Nós aqui estamos vivendo uma transição. Para muitos de vocês eu preciso contextualizar o sofrimento, para que você possa, em algum momento, não mais alimenta-lo; mas nos movemos em direção a não dar mais nenhuma pequena atenção para o sofrimento, a ponto de não ter mais que falar dele. 

Reconheço que este ainda não é o momento, porque eu sei que muitos precisam de entendimento a respeito do processo de transformação do sofrimento. Mas, conforme você vai amadurecendo, vai podendo se imunizar a ponto de não precisar mais falar dele e de compreender que quando eu falo dele, estou me referindo justamente para atender à necessidade de um grupo de almas que está precisando dessa informação para completar um processo de integração e poder, em algum momento, não ter mais nem que falar do sofrimento; não por negação, mas porque você conhece, reconhece e escolhe não alimentar. Você olha para o outro, vê o mal atuando, mas escolhe não dar atenção, escolhe ver a luz por trás das sombras e, quando for necessário tratar da sombra, você trata objetivamente. E, mesmo quando você identifica uma sombra passando por você, você reconhece, mas não alimenta. Você olha para sua insegurança, mas dá força para sua confiança. Você olha para o seu ódio, mas dá força para o amor. Você olhar para a luxúria, mas dá força para a devoção. Até que chega uma hora em que as manifestações do eu inferior não têm mais poder sobre você. Se você sente a aproximação; às vezes na forma de um pensamento, de uma sensação, você reconhece, mas não alimenta, deixa ir embora. 

Mas, para chegar a esse estágio de reconhecer e não se identificar, você precisa conhecer. É por isso que eu trabalho com muito afinco nessa esfera que eu chamo de ABC da espiritualidade, que é para evitar que você caia na armadilha da negação. A negação é, talvez, o principal veneno. É importante não negar a sombra. É importante você reconhecer. E a parte que você reconhece e sabe lidar com ela, depois que você reconhece, você não é mais pego. Porque as sombras ou, como eu prefiro chamar, o sofrimento, tem um largo espectro, que vai desde os aspectos bem definidos do seu eu inferior, até aspectos sutis que você nem mesmo consegue contextualizar, entender. 

Pergunta: Amado Baba. Tem coisa estranha nesse mundo, não é? Mesmo com todo o seu bom humor para tratar do assunto do astrólogo, ou como abrimos as portas para o sofrimento, não deixei de ficar impressionado. Fiquei refletindo sobre como me saboto. Estava atento o suficiente para perceber uma alteração no meu humor. Sem uma razão aparente, eu comecei a ficar irritado e achar defeito na minha namorada. Embora eu estivesse vendo, não consegui evitar. Tivemos uma discussão, mas quando cheguei no salão, tudo passou. E quando saí, tudo voltou. Sentado no café, eu me lembrei de você e, de novo, desapareceu. E o mais incrível foi ver o casal da mesa ao lado começar a se alterar no mesmo momento que passou o meu mal estar. Parecia que a coisa ruim pulou para o outro lado. Isso existe? Ou será que estou enlouquecendo? 

Sri Prem Baba: Isso existe. Perceba como o sofrimento pode agir de forma muito sutil, como uma entidade. É claro que ele acaba se alojando no seu sistema porque encontra caminhos e os caminhos que ele encontra são as marcas da vida que você ainda não pode tratar, não pode curar. Talvez, o ponto mais delicado deste estudo seja quando você pega esse sofrimento para você e acredita que ele é seu. Isso, por conta das suas histórias; você precisa se responsabilizar por ele. 

A autorresponsabilidade é, sem dúvida, uma parte fundamental do processo. Mas, chega uma hora que você precisa também expandir a visão para enxergar que existem coisas que estão além dessa ideia de individualidade. É preciso, também, olhar para uma esfera da consciência que, às vezes, chamamos de paranormalidade, ou transpessoalidade, a ponto de perceber que o corpo humano é como um aparelho de rádio e, dependendo da faixa que está sintonizado, você capta frequências que estão no ambiente as quais, muitas vezes, você não sabe de onde estão vindo. Sugiro que nem queira entender se é via satélite ou de uma operadora local. Se você identificou o lixo, não tem que ficar tentando compreender a natureza do lixo, você só varre o lixo. 

Mas é importante compreender que, muitas vezes, você é assaltado pelo sofrimento. É interessante notar que o poder que move essas entidades, ou esse sofrimento, não tem força aqui; porque você veio aqui e tudo desapareceu, lembrou-se de mim e isso desapareceu. Por quê? Porque o sofrimento é a ausência da presença. A presença dissolve o sofrimento, independentemente de o sofrimento ser um pensamento relativo à sua história pessoal ou se é um sofrimento coletivo, que você está captando. Sugiro que você nem tente compreender se é coletivo ou pessoal. Simplesmente acenda a luz da casa para que a escuridão se dissipe. 

Mas, quando ocorrer de você se perceber ali, identificado ou tomado por um padrão negativo – e você percebe isso se repetindo na sua vida – aí sim, você tem que tratar no nível pessoal. Porque, mesmo que seja um sofrimento coletivo que você esteja captando, ele encontrou ressonância na sua história pessoal porque tem um aspecto da sua história pessoal que ainda não foi integrado. E, às vezes, o que você precisa é colher ali uma informação que possibilite se distanciar e olhar de longe para esse sofrimento. 

Às vezes, aquilo se repete e se repete porque está faltando olhar uma coisinha que você ainda não olhou, fazer uma conexão entre causa e efeito. Talvez, iluminar um pontinho de ódio que tem em seu sistema em relação a alguém da sua família e que, às vezes, você não está em condições de se libertar desse ponto de ódio porque ainda sente muita raiva mesmo, ainda tem muita mágoa e ressentimento e não está ainda em condições de sair disso. Então você sabe que de vez em quando o sofrimento vai te visitar e ok, chega num acordo com isso. 

Se você consegue não brigar com o fenômeno de às vezes ser assaltado pelo sofrimento, isso já é uma grande vitória. Eu vejo que muitos acabam ampliando o sofrimento, porque não aceitam que estão sendo tomados por ele, porque queriam estar num lugar diferente do que estão, porque queriam estar mais maduros, mais iluminados e estão ali dando passagem para umas coisas ruins. Fazer o quê? Se é isso, é isso. Se você aceita, já está conseguindo minimizar o poder do sofrimento sobre você. Já abriu espaço para se distanciar dele. 

Se você está brigando com aquilo, só está aumentando o sofrimento. Quando você começa a se condenar, se criticar, porque está num lugar ruim, isso já é o próprio sofrimento tentando te lançar, fazer um círculo ao seu redor. Em outras palavras, você está andando e cai no chão. Você começa a se criticar porque caiu, se condenar porque caiu, se cobrar porque caiu e fica no chão chorando: “Por quê? Por que comigo? O que eu estou fazendo aqui de novo? Eu sou péssimo mesmo. Quando vou sair daqui um dia?” A história pode ser longa. 

Mas, se você caiu e simplesmente levanta, você vai embora. Mas, não caia na armadilha de achar que você nunca mais vai cair. Porque é possível que você caia. Por quê? Porque você está vivo. Está vivo e num corpo humano e ainda tem feridas que não foram totalmente curadas. 

O eu idealizado é um tirano cruel. É quando você idealiza uma identidade, quando cria uma máscara, mas não consegue atingir, não consegue ser e se maltrata tremendamente quando não consegue ser. Vamos dizer que essa máscara, esse eu idealizado, exige que você seja perfeito: “eu preciso colocar em prática o que o Prem Baba ensina. Ele diz que eu não devo me identificar com o sofrimento”. Mas você não consegue e cai, se identifica com o sofrimento. E esse eu idealizado começa a te condenar, porque você não foi um bom aluno, começa a te criticar a te condenar e com isso o sofrimento vai crescendo. 

Aceitar as suas limitações é essencial para você superá-las. Você só supera se você as aceita. Quando você aceita suas imperfeições, você está pronto para ir além delas. 

É curioso mesmo que o sofrimento tenha autonomia sobre sua vontade consciente. Às vezes parece uma possessão espiritual, porque foi isso que você descreveu aqui, você se percebeu sendo tomado por uma negatividade, viu essa negatividade desaparecer diante da presença e percebeu ela voltar quando a presença se esvaziou. Depois, percebeu essa coisa rui pular para outro corpo, que estava ao seu lado. 

Independentemente de essa negatividade ser um pensamento ou uma forma-pensamento ou, até mesmo, uma entidade espiritual com corpo astral e tudo, você é o céu que só observa o trânsito das nuvens. Você está aqui dentro de uma escola espiritual e faz parte do currículo aprender sobre esses fenômenos. A mediunidade faz parte do currículo; saber lidar com o mal, faz parte do currículo. Até que você aprenda essa lição e não mais se perca no sofrimento. Até que possa fechar as portas para o mal. 

Um contraponto: 

Pergunta: Querido Babaji. Amo você. Amo a música como o coração dos seus ensinamentos. Cantar clareia minha voz e pensamentos. Nesse hall, experimentei profundas curas e bênçãos. Ontem, na cama, com uma dor de cabeça, eu estava aceitando minhas limitações de não poder vir aos bhajans. E disse: “meu coração vai até o hall enquanto estou sentada e rezando”. Entrei em meditação e o terceiro olho se abriu com uma luminosa luz dourada, como o verão aquecendo o meu corpo e não lembrando que segundos antes eu estava tremendo. De repente, como uma nuvem se abre, Sachcha Baba olhando para mim. Pude ouvir um sussurro enquanto a miragem estava desaparecendo, dizendo: “fique em mim”. Por muito tempo eu pedi para ver o que estava por trás das dores de cabeça frequentes e que, de repente, desapareceram. 

Sri Prem Baba: Muito bonito. Realmente muito bonito. Aos poucos vamos nos firmando no mantra, nos firmando na luz da alegria. Vamos nos firmando na luz do amor. Vamos nos estabelecendo num coração pacífico. Vamos nos estabelecendo no Ser. 

Percebe como foi um comando realmente profundo esse do Maharaj, de tirar essa linha do mantra – que haja fim no jogo do sofrimento? Percebe como é profunda essa energia, embora seja uma ilusão? Mas, quem comanda esse plano? É tudo ilusão. O comando que ele trouxe significa uma profunda transição. 

Usando uma linguagem mais conhecida, ele está falando da intencionalidade negativa para a intencionalidade positiva. Transitar do não para o sim. Ele está dizendo: “não dê nenhum alimento para o não. Alimente o sim”. Reconheço que muitos de você ainda precisam conhecer melhor o não, para não dar alimento para ele sem saber que está dando. Porque, se você não reconhece, muitas vezes está alimentando o mal em você, sem saber que se trata do mal. Mas é importante você saber o nosso plano de voo. 

Aqui nesta descrição, você teve uma aula prática. E aqui, no satsang, perceba que a aula prática continua. Observe o seu corpo, perceba que só de falar em sofrimento a energia tende a ficar mais densa, só de falar. Ao mesmo tempo, não há como evitar tratar do assunto. É como se você estivesse estudando medicina e que você precisa olhar de frente para a doença. Para se tornar um cirurgião, você precisa estudar o tumor, para saber como removê-lo. 

Está observando como você está? Agora nós vamos fazer experimento de colocar luz na escuridão. Vamos cantar para iluminar o jogo da alegria. Até agora estávamos falando “que haja fim no jogo do sofrimento”. Estão me compreendendo? Estava aqui destrinchando a frase “Que haja fim no jogo do sofrimento”. Você está vendo o que está sentindo. Agora, vamos para a segunda frase, vamos iluminar o jogo da alegria cantando um bhajan qualquer. Através da beleza, a gente ilumina o jogo da alegria. Através da presença, porque a beleza é um florescimento da presença. E aí vamos observar o que acontece. 

(os músicos cantam o mantra Prabhu Aap Jago)

Estão percebendo como a frequência mudou? É como se você dissesse assim: “As sombras se afastam para dar lugar a mim”. 

Abençoado seja cada um de vocês. Que o jogo da alegria seja iluminado. Até um próximo encontro.

NAMASTE